Título: Escaldado, Lula prepara encontro com boliviano
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

Presidente ficou satisfeito com recuo de Evo, mas não vai baixar guarda

Depois de um dia de intensas negociações que culminaram com o recuo de Evo Morales aos ataques ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava satisfeito e comemorou a atitude do presidente boliviano. Mas, escaldado diante dos últimos acontecimentos, Lula cancelou sua presença no jantar com os chefes de Estado da Cúpula União Européia-América Latina, na noite de ontem, a fim de preparar, com seus principais assessores, a estratégia para a conversa que terá com Evo na manhã de hoje.

Lula, segundo os auxiliares, fará questão de deixar claro seu descontentamento com as seguidas manifestações de hostilidade ao Brasil e à Petrobrás dadas pelo presidente boliviano. E, apesar do recuo de Evo, não vai mandar interromper os estudos para que a Petrobrás reduza a dependência do gás boliviano - planos que incluem a importação de outros fornecedores, em caso de necessidade.

A notícia do recuo de Evo Morales foi dada a Lula pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, primeiro por telefone, depois pessoalmente. Lula recebeu a informação com um sorriso, que Amorim preferiu não traduzir como alívio. "Ficamos contentes. Vejo que o que ele falou é positivo, na medida em que cria condições para a retomada de um diálogo que estava caminhando", disse o chanceler.

Segundo Amorim, o encontro foi solicitado pelo presidente da Bolívia. "Houve um desejo expresso do presidente Morales de ter este encontro", comentou o ministro, depois de acertar com Lula o tom da resposta brasileira.

Apesar da confiança em um entendimento, o ministro também manifestou cautela em relação aos passos futuros de Evo Morales. Questionado se entendia que Evo havia recuado por causa de sua ameaça de retirar o embaixador brasileiro de La Paz, Amorim desabafou: "Tem de perguntar a ele mas, certamente, vários fatores terão atuado".

MOVIMENTAÇÕES O dia foi de intensa movimentação em Viena, para buscar um entendimento com Evo Morales. Os dois presidentes evitaram mencionar o conflito nas várias declarações que deram durante o dia.

Amorim sugeriu que poderia retirar o embaixador brasileiro em La Paz por volta das 13 horas (8 horas da manhã no Brasil). No meio da tarde, Evo Morales faltou a uma mesa redonda na qual poderia ficar lado a lado com Lula, no painel sobre comércio e combate à pobreza, e mandou um representante. No encerramento da cúpula, no entanto, lá estavam os dois, mas ainda sem conversar.

Mas, àquela altura, Evo Morales já havia mandado ao governo brasileiro o recado de que gostaria de se encontrar com Lula no dia seguinte. Foi prontamente atendido. Por volta das 19 horas (2 da tarde no Brasil), Lula anunciou que o encontro dos dois estava confirmado para a manhã seguinte e só depois que falasse com Evo teria condições de se pronunciar. A esta altura, o presidente boliviano estava prestes a iniciar sua entrevista, na qual recuou dos ataques do dia anterior.