Título: 'Foi tudo culpa da imprensa'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

'Se alguns meios de comunicação querem me colocar contra Lula, isso não vai acontecer', justifica o presidente

O presidente da Bolívia, Evo Morales, recorreu ontem a outro traço autêntico de políticos tradicionais latino-americanos: acusou a imprensa de ter criado um mal-entendido em torno de suas acusações à Petrobrás e ao governo brasileiro, na entrevista concedida em Viena quinta-feira.

Evo chegou mesmo a blefar ao dizer que, se o presidente Lula tivesse ouvido as gravações de sua entrevista, certamente não teria se indignado. O presidente brasileiro, entretanto, teve o cuidado de escutar uma gravação da entrevista, com o chanceler Celso Amorim, antes de definir a reação exposta por seu ministro na noite de quinta-feira.

"Se alguns meios de comunicação com terceiras intenções querem confrontar-nos, querem me colocar contra o companheiro Lula, isso não vai acontecer", insistiu ontem o presidente boliviano. O Evo Morales que se apresentou ontem na sala número 18 do Centro de Imprensa da 4ª Reunião de Cúpula União Européia-América Latina mostrou-se mais nervoso e menos seguro diante dos jornalistas que no dia anterior.

Repetiu seu método de ouvir todas as perguntas para depois respondê-las a sua maneira.Mas, logo no início, afirmou que não estava acostumado a participar de reuniões de cúpula. Comentou ainda que recebera uma paternal advertência do presidente da França, Jacques Chirac, que o aconselhou a valer-se de mais diplomacia ao anunciar as suas decisões.

VENEZUELA O presidente boliviano confirmou que a Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB), a estatal do setor de petróleo e de gás que ressurgiu em seu governo, firmará um acordo com a Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) com a finalidade de industrializar o gás natural nas regiões do Chaco, de Cochabamba e de Santa Cruz de la Sierra. Mas esquivou-se de apresentar detalhes.

O acordo deverá ser assinado no próximo dia 28, durante um novo encontro que terá com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, desta vez no Chapare, região pobre e de elevada concentração de plantadores de coca.

Evo ressaltou que, ao contrário do Brasil e da Venezuela, a Bolívia não conta com uma estatal petrolífera de porte. A YPFB, "destruída pelos governos neoliberais", está em fase de reestruturação.

"A Bolívia tem todo o direito e controlará toda a cadeia de produção com seus sócios", declarou. "A PDVSA continuará, a Repsol e a Petrobrás também. Para isso, o governo estabeleceu um prazo de negociação de 180 dias, de acordo com o decreto de nacionalização."