Título: Indústria têxtil pede proteção e ameaça reduzir investimentos
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

Pressionada por uma de suas piores crises, a indústria têxtil e de confecção entrega hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, documento com um pacote de propostas para melhorar a competitividade do produto brasileiro no exterior e no mercado doméstico. Muitas empresas engavetaram planos de aumento da produção, passaram a demitir e a apostar em investimentos no exterior, conta Josué Gomes da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), líder do grupo de empresários que vai a Brasília.

Segundo ele, o setor não suporta mais a concorrência das importações ilegais, principalmente da China, nem a excessiva carga tributária que tira competitividade das exportações brasileiras e atinge de forma contundente setores de mão-de-obra intensiva como o têxtil, que mantém cerca de 1,65 milhão de empregos diretos no País. Desse total , 70% são ocupados por mulheres. "Se as condições corretas não forem adotadas, o setor vai diminuir", diz o presidente da Abit.

Gomes da Silva, que é filho do vice-presidente da República, José Alencar e dirige a empresa da família, a Coteminas, explica que o a ser entregue ao presidente Lula é formado por três conjuntos de propostas. Num deles, o setor defende a desoneração fiscal, por meio da redução de encargos sobre a folha de pagamentos e do corte das alíquotas de tributos indiretos, como o PIS e a Cofins. A idéia, segundo o presidente da Abit, é manter a arrecadação atual, e não diminuí-la. "Temos a convicção de que o ingresso de impostos pode até aumentar com a recuperação dos negócios". Nesse caso, os ganhos seriam repassados em mais redução de impostos.

O setor defende ainda a negociação de acordos bilaterais de comércio com os principais mercados têxteis do mundo, especialmente Estados Unidos e União Européia, coisa que não existe hoje. O governo brasileiro apostou nas tentativas de acordos multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujas negociações estão paradas por dificuldades quase intransponíveis. "Enquanto isso, nossos principais concorrentes avançaram e ficaram mais competitivos. Garantiram acesso privilegiado aos maiores mercados, já que fizeram acordos bilaterais com eles."

Outro conjunto de propostas da indústria têxtil está ligado ao combate a fraudes, principalmente as praticadas nas importações, como falsa declaração e subfaturamento, que se caracteriza pela documentação de mercadorias a preços inferiores aos realizados, diminuindo a base de cálculo dos tributos.

A indústria sugere concentrar as importações de produtos têxteis e de confecções, e de outros setores, em apenas alguns portos. "O Brasil é um país de dimensão continental com inúmeras portas de entrada e saída de mercadorias, o que dificulta a fiscalização".

Desde outubro do ano passado, quando a situação do setor começou a ficar mais complicada, a Vicunha Têxtil, uma das maiores empresas do setor, já fechou três fábricas e fez duas mil demissões. Estuda ainda investir em fábricas em países com acordos comerciais com os Estados Unidos e Europa ainda este ano ou no próximo, informa Ricardo Steinbruch, presidente da empresa. "A idéia é parar os investimentos aqui e estudar oportunidades onde a gente possa crescer".

Na linhas Bomfio, uma das três maiores do setor no País, um investimento de R$ 15 milhões em uma nova fábrica, previsto para o primeiro semestre, foi adiado. "Devido à situação adversa, que mistura câmbio desfavorável com importações ilegais, nossos sócios internacionais (a American & Efird, maior empresa do setor nos EUA) ficaram assustados e pediram para esperar um pouco", conta Alfredo Emílio Bonduki, presidente da empresa .