Título: Tática é bater primeiro e avisar depois
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

BUENOS AIRES - Nos conflitos que teve até agora com presidentes de outros países, empresários estrangeiros e diretores de organismos financeiros internacionais, o presidente argentino Néstor Kirchner aplicou basicamente a tática do bater primeiro e avisar depois. Desta forma, após um período de lua-de-mel com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Kirchner abriu a temporada de conflitos com o Brasil em julho de 2004: anunciou inesperadamente, uma hora antes do encontro com Lula, que aplicaria uma bateria de medidas protecionistas contra uma suposta avalanche de produtos brasileiros.

Enquanto brigava com o Brasil, Kirchner irritava o então presidente chileno Ricardo Lagos, ao qual comunicava - também inesperadamente - que não cumpriria os contratos assinados para o abastecimento de gás da população e da indústria do país vizinho. O Brasil só deixou de ser bode expiatório dos problemas comerciais argentinos quando Kirchner encontrou no Uruguai um novo alvo.

Desde agosto passado Kirchner desferiu uma campanha contra a instalação de duas fábricas de celulose que estão sendo construídas do lado uruguaio da fronteira. Kirchner apoiou manifestantes argentinos que, violando os princípios de livre circulação do Mercosul, realizaram durante dois meses piquetes em duas das três pontes que ligam os dois países, asfixiando a economia uruguaia. Além disso, abriu um processo contra o Uruguai na Corte Internacional de Haia.

Na lista das brigas, Kirchner também confrontou-se com a Bolívia, a França, a Rússia (marcou um encontro com o presidente Vladimir Putin e nunca apareceu), irritou o sul-africano Thabo Mbeki, indignou o chinês Hu Jintao, deu cano no vietnamita Tran Duc Luong e na rainha Beatriz, da Holanda, e fez o rei espanhol Juan Carlos tomar um chá-de-cadeira de duas horas.