Título: Tietê-Paraná perde investimentos
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Economia & Negócios, p. B7

PEDERNEIRAS (SP) - A Hidrovia Tietê-Paraná perderá investimentos de R$ 35 milhões nos próximos dois anos. Os recursos seriam aplicados na construção de novas barcaças e empurradores, que ampliariam a capacidade de transporte da maior companhia de navegação da hidrovia, a DNP - empresa do grupo Torque. A empresa movimentou no ano passado 784 mil toneladas de carga e pretende carregar pelo menos 1,3 milhão de toneladas de produtos agrícolas este ano, basicamente soja e farelo de soja, além de madeira e açúcar.

Para suspender os investimentos, o grupo Torque alegou "falta de confiabilidade" nas regras de operação da hidrovia. Os contratos com os donos das cargas exigiam o transporte nos volumes e prazos determinados. "Sem garantias, não tenho como fechar um contrato que serei obrigado a cumprir mesmo se não tiver autorização para operar na hidrovia. Teria de fazer o transporte com qualquer outro sistema. Isso significaria um risco muito elevado para o negócio. Não havia segurança para cumprir os compromissos contratuais", afirma Pedro Burin, diretor da DNP.

O investimento da empresa começaria em julho deste ano e terminaria em junho de 2008. Os novos contratos com usinas de açúcar e produtores de soja trariam para a hidrovia Tietê-Paraná mais 700 mil toneladas de carga. Segundo a DNP, esse incremento elevaria o transporte de longo curso, apenas da empresa, a 2 milhões de toneladas por ano a partir de 2008. Isso é mais do que foi movimentado na hidrovia durante todo o ano passado, quando foram transportados 1,2 milhão de toneladas de carga, entre as viagens de curto e longo curso.

Com isso, a empresa está finalizando a operação do estaleiro, instalado às margens do Tietê, em Pederneiras, interior de São Paulo. O grupo de trabalhadores, que será dispensado, concluiu apenas as duas últimas embarcações de um grupo de oito que foram montadas com investimentos de R$ 30 milhões. A sexta barcaça deste grupo foi lançada recentemente ao rio Tietê.

O volume de 700 mil toneladas previsto nos contratos, mas inviabilizado agora, significaria também a retirada de 26 mil caminhões, com capacidade de 27 toneladas cada, no trecho pelo qual a hidrovia poderia servir.

A DNP queixa-se do excesso de limitações impostas pelos gestores da hidrovia, o Departamento Hidroviário (DH) e, neste momento, da Capitania dos Portos, responsável pelo controle do transporte na hidrovia.

Em nome da segurança, há imposições no número de barcaças por comboio, restrições para cruzamento de pontes (o que exige a necessidade de desmembramentos, elevando em mais de 20% o tempo de trânsito) ou ainda limites de peso para o transporte (não podendo exceder o limite de 2,90 metros de calado).

A DNP, maior companhia de transporte de carga de longo curso autônoma da hidrovia, afirma que os regulamentos impostos pela Capitania e pelo DH freiam o desenvolvimento da Tietê-Paraná. De 1999 a 2005, enquanto o transporte hidroviário (para cargas de curto, médio e longo cursos) cresceu a 6%, a DNP registrou expansão de cerca de 17% ao ano, principalmente com o aumento do transporte de produtos do complexo soja. Com a entrada de cargas como a madeira, usada pela Votorantim Celulose e Papel (VCP) em Jacareí, e o açúcar, que entra na hidrovia no próximo mês de agosto, os volumes poderiam crescer ainda mais.

O sistema hidroviário Tietê-Paraná foi dimensionado para o transporte de 20 milhões de toneladas por ano. Não transporta ainda nem 10% do volume para o qual foi projetado. "Há um freio imposto à hidrovia e isso tem comprometido investimentos das empresas que operam na via", critica Burin.