Título: Petrobrás pode devolver postos
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Economia & Negócios, p. B9

LA PAZ - As empresas que atuam na distribuição de combustíveis na Bolívia têm um mês para transferir suas operações para a estatal boliviana YPFB. Da lista, fazem parte a Petrobrás e outras seis empresas privadas, que assumiram a venda de derivados de petróleo ao consumidor final após a privatização do setor, em 2001. A estatal brasileira pode abrir mão de seus postos de gasolina no país, uma vez que não terá controle sobre os produtos vendidos.

A mudança foi instituída na nova lei dos hidrocarbonetos da Bolívia, promulgado em maio do ano passado. A lei determina que "sejam eliminados, da cadeia de petróleo e gás, os distribuidores atacadistas e YPFB será o único importador e distribuidor atacadista do país". Logo após a promulgação, porém, a estatal boliviana admitiu que não teria condições de assumir imediatamente o negócio e concedeu um prazo de transição que termina no dia 30 de junho.

A Petrobrás opera na distribuição de combustíveis na Bolívia por meio da Empresa Boliviana de Distribuição (EBD). Além da estatal brasileira, atuam no setor Shell, Copenac, Pisco, Refipet, Pexim e Dispetrol. A Petrobrás admite desistir de sua rede de postos de gasolina porque não faria sentido operar apenas o setor de revenda, já que os postos são de propriedade de terceiros. Ou seja, a empresa ganha apenas na venda dos combustíveis para os postos, que a partir de julho será feita pela YPFB.

Bolívia e Venezuela estão criando uma nova companhia mista para o setor de revenda de combustíveis, chamada Petroandina. Segundo uma fonte do ministério dos Hidrocarbonetos, a empresa vai abrir uma rede de postos para atuar no mercado boliviano. A expectativa é que a Petroandina substitua bandeiras tradicionais que deixarão o mercado após a estatização da distribuição. A estatal boliviana anunciou que pretende remodelar sua rede de pontos de combustíveis.

A criação da Petroandina faz parte de uma série de convênios assinados entre os dois países na última sexta-feira. No setor de petróleo, a parceria entre a YPFB e a estatal venezuelana PDVSA inclui ainda estudos para a construção de uma petroquímica para a fabricação de fertilizantes e de duas unidades de processamento de gás natural e avaliação de áreas para exploração e produção de petróleo e gás na Bolívia. A estimativa é que os investimentos superem os US$ 1,5 bilhão.

O presidente da YPFB, Jorge Alvarado, disse ao diário boliviano La Razón que 25 empresas privadas venezuelanas estudam a construção de outras unidades de processamento de gás na Bolívia. Esse tipo de instalação separa a parte líquida do gás natural, que é transformada em gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de botijão. O gás seco que resta é vendido para indústrias, comércio, residências e termelétricas.

Hoje, segundo Alvarado, o gás é entregue com todos os seus componentes às empresas compradoras, principalmente a Petrobrás. O executivo disse que a separação da parte líquida vai permitir à Bolívia abastecer o mercado interno e exportar excedentes de GLP.