Título: Vasp vota plano para voltar a voar
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Economia & Negócios, p. B12

Sem voar desde janeiro de 2005, a Vasp está no centro de uma disputa bilionária. Um estudo que acaba de ser concluído calcula em R$ 6,48 bilhões o patrimônio da empresa, entre prédios, aviões e ações que correm na Justiça e que podem ter decisão favorável à empresa.

Amanhã de manhã, credores da companhia vão se reunir em assembléia para votar um plano de recuperação judicial. Da assembléia, pode sair uma decisão sobre o destino para os recursos e, eventualmente, um reforço na tentativa de fazer a Vasp voltar a voar.

O plano de recuperação judicial prevê a separação da empresa em duas: uma parte operacional e outra para administrar os ativos e as dívidas da companhia.

A parte que ficará com os ativos e dívidas terá nove Fundos de Investimentos e Participações (FIPs). Os credores poderão trocar dívidas por cotas dos fundos, que terão ativos, incluindo de imóveis a eventuais créditos obtidos na Justiça.

Por exigência dos credores, a Vasp contratou um escritório de auditoria especializado em perícias judiciais, Jharbas Barsanti, para elaborar um estudo detalhado sobre a situação patrimonial.

O estudo dá conta de um patrimônio de R$ 6,48 bilhões. No entanto, do total de ativos, apenas R$ 1,8 bilhão é tangível - móveis, aviões, turbinas, máquinas, veículos, entre outros. O resto é decorrente de ações judiciais, algumas com decisões favoráveis, outras ainda não.

O tamanho da dívida da empresa ainda é motivo de grande discussão. Enquanto a Vasp reconhece que deve R$ 3 bilhões, pela conta dos credores o rombo chega a R$ 5 bilhões.

"O patrimônio líquido é positivo e a companhia tem ativos suficientes para saldar suas dívidas", afirma Medeiros. "É uma situação econômica melhor do que a da Varig, que além de tudo perde dinheiro a cada dia."

Os mais de 3 mil credores trabalhistas, que brigam por R$ 900 milhões, devem votar a favor do plano de recuperação judicial. "Fizemos algumas sugestões de modificação ao plano, mas não acredito que os trabalhadores votarão contra", afirma o aeronauta Marco Reina, representante dos trabalhadores no comitê de credores.

"Estamos confiantes que vamos aprovar o plano", completa o diretor presidente interventor da Vasp, Raul de Medeiros. Pela lei de recuperação judicial, a não aprovação do plano significa a falência da companhia.

De acordo com consultoria Tendências, responsável pela elaboração do plano junto com o escritório de advocacia Wald Associados, a "probabilidade" de a empresa vencer a ação judicial contra a União por perdas provocadas por planos econômicos, com valor estimado em R$ 2,5 bilhões, "justifica, por si só, a implementação do plano para a empresa".

OPERAÇÃO

Caso a empresa consiga aprovar o plano de recuperação, o passo seguinte será buscar investidores para dar início a retomada das atividades. A empresa quer voltar a transportar passageiros e carga até o final do primeiro trimestre do ano que vem. A intenção é montar uma frota de 10 a 12 aeronaves até o fim do primeiro ano. Quanto de investimento seria necessário para tanto, Medeiros não revela. "É prematuro, depende de uma série de variáveis, como tipo de aeronave, por exemplo."

A empresa terá de fazer um investimento importante em marketing, para resgatar sua imagem. "Claro que teremos que investir em imagem. Mas o desgaste maior está concentrado no Sudeste, em São Paulo. No Nordeste e no Norte a empresa ainda tem uma imagem muito boa", afirma Medeiros.

Hoje a Vasp conta com 380 funcionários e mantém uma operação mínima de prestação de serviços de manutenção para terceiros. A empresa tem um contrato com a BRA e negocia outro com a V-Log, ex-subsidiária de cargas da Varig. Outra fonte de receita são aluguéis de imóveis, que estão espalhados por todo o País.