Título: CIA: indicado de Bush ganha apoio
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2006, Internacional, p. A18

Apesar do caso de rastreamento telefônico, Hayden obtém compromisso de aprovação de dois senadores

A despeito do furor provocado pela revelação de uma nova ordem secreta do presidente George W. Bush para permitir o rastreamento das chamadas telefônicas de milhões de americanos, o ex-diretor da Agência de Segurança Nacional (NSA), brigadeiro Michael Hayden, que operou as ordens, não deverá ter dificuldade para garantir os votos necessários para ser confirmado no cargo de diretor de CIA. Ele foi nomeado por Bush para assumir a chefia da principal agência de espionagem americana na semana passada.

Brigadeiro de quatro-estrelas da ativa, Hayden obteve ontem o apoio de dois senadores republicanos conhecidos por sua independência em relação à Casa Branca de Bush: Susan Collins, do Maine, e Chuck Hagel, de Nebraska, anunciaram que apoiarão a nomeação de Hayden depois de recebê-lo separadamente.

Collins sugeriu, no entanto, que o brigadeiro passe para a reserva antes de assumir o comando da agência de inteligência civil.

Se não seguir o conselho da senadora, Hayden será apenas o segundo militar da ativa a ocupar o comando do organismo, depois do almirante Stanfield Turner, que conduziu a CIA durante o governo do presidente Jimmy Carter, no final dos anos 70.

Hagel afirmou que Hayden "terá de explicar qual foi seu papel" no programa de rastreamento de milhões telefonemas feitos dentro dos EUA depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Mas antecipou seu apoio ao nomeado.

Hayden foi também beneficiado ontem pela decisão do FBI, a polícia federal americana, de aprofundar investigações sobre o envolvimento potencial em escândalo de corrupção de Kyle Dusty Foggo, o terceiro nome da hierarquia da CIA na gestão de Porter Goss (ler ao lado).

Paralelamente, senadores democratas e republicanos pediram ontem à Casa Branca para que seja reaberta investigação sobre o programa de rastreamento telefônico sem ordem judicial que Bush autorizou, ao arrepio da lei que rege o assunto. A investigação, conduzida pelo Departamento de Justiça, foi suspensa depois que advogados de outros departamentos do governo alegaram que não estavam autorizados a falar.

PESQUISA APROVA

Uma pesquisa realizada na quinta-feira à noite pelo jornal americano The Washington Post e a rede de TV ABC, no entanto, revelou que 63% dos americanos apóiam o monitoramento das ligações telefônicas com o objetivo de prevenir possíveis ações terroristas.

O levantamento foi realizado logo depois da revelação da quebra do sigilo por parte da NSA, com o objetivo de identificar padrões de ligações que pudessem indicar alguma atividade terrorista dentro do território americano.

De acordo com a pesquisa, 63% dos entrevistados disseram que o programa de monitoramento é uma maneira aceitável de investigar possíveis ações terroristas.

Desse total, 44% deram forte apoio à iniciativa. Já entre os que rejeitaram o programa (35%), apenas 24% se opuseram fortemente à iniciativa.

Ainda segundo a pesquisa, 66% dos americanos disseram que não se incomodariam caso tivessem seu sigilo quebrado pela NSA.