Título: CNBB critica pseudomoralismo na política
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Nacional, p. A15

Para bispo, políticos que denunciam outros por caixa 2 também fizeram a mesma coisa

O novo arcebispo de Ribeirão Preto, d. Joviano de Lima Júnior, que acaba de ser transferido de São Carlos e tomará posse dia 3, disse ontem que a Igreja deve encorajar os eleitores a ir às urnas em outubro, apesar da decepção causada pelas denúncias de escândalos e corrupção nos últimos meses.

"Não será uma tarefa fácil, mas é a nossa missão", alertou d. Joviano, ao comentar a Análise de Conjuntura, apresentada por assessores na Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para reflexão do plenário. Embora não seja oficial, o texto servirá de base para uma declaração política a ser divulgada até quarta-feira, quando se encerra a reunião.

Sob a coordenação do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira e com a contribuição de sete peritos, entre os quais o assessor político do episcopado, padre Ernane Pinheiro, o texto apresenta um quadro que, na opinião de d. Eduardo Koaik, bispo emérito (aposentado) de Piracicaba, desperta muito interesse pelo fato de 2006 ser um ano eleitoral.

"Ao falar de escândalos como o caixa 2, é preciso observar que uns (políticos) denunciam os outros, quando também eles fizeram a mesma coisa", alertou o bispo. D. Manuel João Francisco, da diocese de Chapecó, ressaltou a necessidade de incentivar a uma participação eleitoral consciente e disse que a liberdade de imprensa é importante para a divulgação das denúncias.

Uma afirmação do texto de que novamente entra em cena na cultura política brasileira o pseudomoralismo, um "mecanismo que impede a mudança real e profunda na sociedade", esquentou os debates no plenário. "Quando as camadas populares começam a organizar-se e se fazerem senhoras do destino, o pseudomoralismo se afirma procurando justificar-se pela defesa da ordem, da família, do direito ou tradição", observa a Análise de Conjuntura.

Como exemplo desse comportamento, uma referência ao governo de Juscelino Kubitschek, sem citar o seu nome: "O mesmo pseudomoralismo que há meio século se chocava com os romances do governante, não se importando com o tratamento dado aos operários que deviam construir a nova capital em quatro anos, hoje se mostra indignado quando 'agitadores' contrariam as normas do bom comportamento cívico para fazerem aparecer na mídia suas críticas e reivindicações."

Para d. Joviano, o pseudomoralismo "é uma atitude que se repete na história, quando forças populares fazem conquistas". Os movimentos sociais, observou d. Eduardo, não devem ser nem demonizados nem canonizados. "Eles têm valor, pois fazem pressão e, sem pressão, as mudanças não acontecem", disse o bispo, apressando-se a acrescentar que "quando agem contra a lei, esses movimentos devem ser punidos".

D. Demétrio Valentini, bispo de Jales e membro da Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, acredita que, apesar do impacto das denúncias, que inicialmente provocou um sentimento de descrença, o eleitor vai às urnas.