Título: Itamar pode desistir, seja qual for o resultado
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Nacional, p. A10

Candidatura própria é considerada remota e ele não está empolgado

O ex-presidente Itamar Franco emitiu sinais de que poderá desistir da pré-candidatura à Presidência pelo PMDB mesmo que a legenda decida hoje, durante convenção, ter nome próprio para disputar as eleições em outubro - hipótese considerada remota pelos principais caciques da sigla.

Durante a semana, Itamar, que já não vinha demonstrando muita animação com a pré-candidatura - que tem como principal fiador o ex-governador paulista Orestes Quércia -, demonstrou que só se manterá no pleito caso sinta "empolgação" no encontro de hoje.

Para isso, os peemedebistas de São Paulo, sob o comando de Quércia (que dirige o partido no Estado), importaram da capital paulista claque de 200 pessoas, com a missão de incentivar Itamar "a não jogar a toalha".

APELOS

A bem da verdade, Itamar nunca quis disputar a sucessão do presidente Lula. O desejo do ex-presidente é brigar por uma vaga no Senado, mas acabou vendo seu nome inscrito como pré-candidato diante dos apelos de Quércia, após a derrota de Germano Rigotto (RS) para Anthony Garotinho (RJ) nas prévias da legenda.

A tese da candidatura própria no partido praticamente naufragou com a greve de fome de Garotinho, na avaliação de dirigentes da legenda. Mesmo antes disso, porém, já vinha sofrendo abalos por conta da pressão dos candidatos aos governos estaduais. Eles querem o partido livre nacionalmente para fazer nos Estados as alianças mais convenientes.

Caso confirmada a suspeita de que o PMDB não terá candidato próprio, a legenda também não deverá ceder aos apelos do PT e do PSDB para fechar uma aliança ainda no primeiro turno da eleição, avaliam dirigentes. Mas eles admitem que pode haver uma alteração no cenário, dependendo da investida do governo.

JOGO PESADO

"Se o governo jogar pesado demais, pode ser que seja consolidada uma aliança com o Lula. Mas hoje, se fosse levada em conta a situação dos Estados, a tendência maior, em caso de aliança, seria com o PSDB", diz um dirigente da sigla. Isso porque um acordo com o PT só é considerado factível em dois Estados: Tocantins e Paraíba. Em contrapartida, estão avançadas as negociações com o PSDB em quatro Estados: Pernambuco, Rio Grande do Sul, Piauí e Sergipe.

Em São Paulo, também há mais possibilidades de fechar uma aliança com os tucanos. Quércia vem sendo cortejado pelos pré-candidatos do PSDB ao governo e a presidente, José Serra e Geraldo Alckmin.

Na conversa com Serra, Quércia recebeu o convite para disputar o Senado. Também não está descartada a hipótese de o PMDB indicar o vice de Serra - nesse caso o tucano prefere Michel Temer, mas Quércia também é lembrado - apesar de o PFL ter preferência na indicação.