Título: Loucos para aderir
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Nacional, p. A6

Objetivo do PMDB hoje é enterrar candidatura própria para poder negociar alianças

Encenações à parte, e não devem ser poucas, a convenção do PMDB hoje tem como único objetivo enterrar logo a idéia de candidatura própria para liberar o partido para negociações de alianças eleitorais no plano nacional - seja com o PT ou com o PSDB - e nos Estados.

E nesse jogo não há adversários. O único que ainda poderia estar contra, e nesse sentido deve patrocinar algum espetáculo na reunião, seria Anthony Garotinho que, de público já reconheceu que suas chances viraram pó.

O que interessa ao PMDB agora é o que sempre interessou ao partido: saber quem dá mais e preparar o terreno para a adesão. A confirmação da regra da verticalização pela Justiça Eleitoral confere um certo verniz à discussão. Para todos os efeitos, os pemedebistas desistiram de ter candidato a presidente da República porque a lei os impede.

Mas a lei proíbe mesmo é o partido de ter um candidato "laranja", com a tarefa exclusiva de marcar presença no debate nacional, nas pesquisas de opinião, e reunir assim patrimônio para negociar participação no governo eleito, enquanto seus candidatos a governos de Estado fazem as composições que bem entenderem.

Ao impor alguma organização ao ambiente, a Justiça obrigou o PMDB a abandonar oficialmente um plano que, na prática, nunca existiu de verdade.

Os diversos ensaios de candidatura, sendo o mais consistente o de Garotinho, serviram nesses três anos e meio para evitar que o partido fosse majoritariamente parar nos braços (e benesses) do presidente Luiz Inácio da Silva.

A ala oposicionista valeu-se das ambições do ex-governador do Rio - a quem interessava deixar-se utilizar na esperança de dar o bote depois - e foi assim vivendo a vida, fazendo discurso de afirmação partidária e pregando a "recuperação da identidade pemedebista", até conseguir alcançar seu real intento: fazer do PMDB uma peça de peso fundamental na campanha.

Não se pode negar, foram competentes nisso. Muito mais que os governistas, nada estratégicos e muito imediatistas no seu afã de ocupar espaços na administração pública. Mas, de qualquer forma, o PMDB acabou cumprindo seus dois destinos. Tornou-se a força mais cobiçada no jogo eleitoral e ao mesmo tempo valeu-se da máquina.

Aprofundou, e ampliou, o mau conceito de que desfruta na sociedade, é fato. Mas aos pemedebistas não parece interessar realmente a retomada da trajetória da legenda nascida como resistência consentida à ditadura e depois condutora do processo de redemocratização.

Ao PMDB importa o que está posto hoje na pré-convenção, convocada agora para que, enterrada a falácia da candidatura, o partido tenha tempo para negociar seu apoio a quem der mais até o período das convenções oficiais, entre 10 e 30 de junho.

Será um mês de leilão explícito, pois PT e PSDB desejam o tempo de televisão e a organização (também chamada de capilaridade) partidária em todo o País do PMDB com igual intensidade. Os dois andam fazendo qualquer negócio. E vice-versa.

No PMDB, o grupo que passou esses quase quatro anos desancando Lula recebeu a oferta da vaga de vice-presidente feita pelo ministro Tarso Genro como sinal de deferência.

Hoje os oposicionistas admitem sem problemas a possibilidade de trabalhar internamente para que o partido se alie oficialmente a Lula. Mas, pragmáticos, farão com gosto o movimento oposto caso a candidatura de Geraldo Alckmin ganhe força.

Os governistas da mesma forma. Preferem Lula, fecham com o PSDB e o PFL em diversos Estados, mas, se Alckmin deslanchar, transferem para ele a preferência.

Uma declaração feita pelo ex-governador Orestes Quércia durante a semana a propósito das tendências expressa bem a objetividade vigente: "Em São Paulo, para efeito de vitória, o quadro mais favorável é a coligação com o PSDB."

José Serra, do alto de seu favoritismo para o governador, já ofereceu ao PMDB a vice e a legenda para o Senado. O PT pôs na mesa o mesmo. Mas, como para "efeito de vitória" estão mais bem posicionados, os tucanos por enquanto estão em vantagem. Devem levar.