Título: Delegado é chamado para explicar vazamento
Autor: Sônia Filgueiras, Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Nacional, p. A6

Corregedoria da Câmara ouvirá terça-feira Tardelli Boaventura, que apura desvio de verbas do orçamento

Na tentativa de enquadrar a Polícia Federal, a Corregedoria da Câmara marcou para terça-feira o depoimento do delegado Tardelli Boaventura, de Cuiabá. Tardelli preside os inquéritos que apuram o desvio de verbas do Orçamento da União por parte de parlamentares e servidores do Legislativo e a atuação de uma quadrilha na venda superfaturada de ambulâncias para prefeituras de todo o País.

A Corregedoria pretende cobrar do delegado o vazamento dos nomes de pelo menos 80 deputados e do senador Ney Suassuna (PMDB-PB) como suspeitos de envolvimento no desvio de verbas do orçamento para a compra de mil ambulâncias. De 2001 até agora, de acordo com a Polícia Federal, foram movimentados R$ 110 milhões para a compra de ambulâncias, dos quais pelos menos R$ 60 milhões teriam sido desviados.

Apesar do suposto envolvimento de quase uma centena de parlamentares com as irregularidades, há um clima de revolta na Câmara por causa do vazamento dos nomes.

NOMES

A princípio, falou-se em até 170 deputados, mas a principal testemunha, Maria da Penha Lino, operadora do esquema infiltrada no gabinete do então ministro Saraiva Felipe desde agosto de 2005, não conseguiu se lembrar do nome de todos. Maria da Penha - que optou por colaborar nas investigações para se beneficiar do programa da delação premiada, em que pode ter redução de pena - revelou que o dinheiro para o pagamento dos parlamentares entrava na Câmara em cuecas, meias e malas.

Ontem, a comissão da Câmara que investigará a suposta participação de deputados no esquema de compra ambulâncias superfaturadas começou a ouvir, em Cuiabá, os assessores que foram presos na semana passada pela Polícia Federal.

O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna, que estava calado, manifestou-se ontem a respeito das suspeitas que pesam sobre ele. Disse que está sendo "massacrado pela mídia". Ele adiantou que apresentará a defesa na terça ou quarta-feira. Suassuna declarou que já intermediou a compra de várias ambulâncias para as regiões mais carentes da Paraíba, não só por meio de emendas, mas também com recursos próprios.

ARGUMENTO

Segundo Suassuna, dos 223 municípios da Paraíba, somente 2 têm hospitais e equipamentos suficientes para atender a população local. Por isso, os prefeitos pedem tantas ambulâncias.

"No meu primeiro mandato, foram 82 ambulâncias do meu próprio bolso, e no segundo mais 29 por meio de emendas, até mesmo para atender à resolução que determina que 30% dos gastos do orçamento devem ser feitos na área da saúde", argumentou Suassuna.

O senador informou ainda que não sabe quem é Maria da Penha, ex-assessora do Ministério da Saúde que era funcionária da Planam, a empresa que, de acordo com a PF, chefiava o esquema. O nome dela foi apresentado ao Ministério da Saúde em ofício do deputado José Divino (PRB-RJ), integrante da bancada do ex-governador Anthony Garotinho.