Título: Disputa por cargos na empresa originou CPI
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Nacional, p. A4

Jefferson revelou caso depois de virar suspeito em esquema nos Correios

Há exato um ano iniciou-se o escândalo do mensalão, com o vazamento de fita que flagrava o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho cobrando propina de R$ 3 mil. Foi justamente a disputa por cargos que desencadeou o escândalo, segundo relato do principal protagonista, o ex-deputado Roberto Jefferson, que foi cassado.

Ele sustenta que a gravação de Marinho pedindo propina em seu nome teria sido feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a mando do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, para incriminá-lo e tirar do PTB o poder de indicar os cargos de destaque nos Correios.

A versão de Jefferson ganha corpo com o depoimento de Silvio Pereira na madrugada de ontem ao Ministério Público Federal. Silvinho, como é conhecido, disse que Dirceu tinha imenso apetite pelo controle das nomeações, o que provocou irritação e rebeldia da base aliada.

Os cargos envolvidos na crise eram do alto escalão, disputados por conta de seus orçamentos volumosos. O atual governo não se limitou, no entanto, a lotear esses postos. Desde o primeiro ano, integrantes do governo e do PT reconheceram e tentaram justificar esse loteamento para a base aliada em toda a máquina do governo.

Em agosto de 2003 o então presidente do PT, José Genoino, admitia a prática. "Vencer a eleição e não mudar? Para que serviu então a eleição?", questionava, ao apresentar suas contas: distribuição política de 15.400 cargos públicos federais ou 70% do total. "Nos 30% restantes serão mantidos técnicos competentes que estão no cargo", complementava.

O ex-secretário de Comunicação de Governo Luiz Gushiken adotava a mesma linha. "A partilha política é uma maneira de organizar o Estado", dizia. "O rodízio natural na democracia, que chamam de loteamento, não é defeito: é marca. Não vamos usar de hipocrisia."

Mesmo após a tormenta do mensalão, a manutenção da prática foi defendida no ano passado pela ministra Dilma Roussef, substituta de Dirceu na Casa Civil. "Indicação política não é atestado de corrupção", disse.

Dados do Ministério do Planejamento confirmam a retórica: em balanço de agosto, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou 5.413 nomeações em cargos comissionados - 1.224 a mais que no final do governo Fernando Henrique.