Título: Rússia pode deixar a UE com menos gás
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

Gasoduto passa pela Ucrânia, que tem problemas com Moscou

A Rússia parece cada vez mais convencida de que pode usar o gás para pressionar e já começa a protagonizar crises em alguns mercados, como o europeu. Os russos decidiram em janeiro acabar com os preços mais favoráveis que cobravam pelo seu gás exportado para a Ucrânia, afetando inclusive a União Européia (UE). Os russos não pensam duas vezes em fechar as torneiras de gás cada vez que querem pressionar a Geórgia e outras ex-repúblicas soviéticas. Além disso, não poupam investimentos para a construção de gasodutos para países onde querem manter certa influência, como na Turquia.

De acordo com diplomatas ocidentais em Kiev, a manobra nos preços pelo Kremlin foi uma forma de os russos pressionarem o presidente ucraniano Viktor Yushchenko, mostrar a dependência energética do país para evitar uma aproximação excessiva da Ucrânia com o Ocidente. A Ucrânia, para retaliar os russos, decidiu parar de importar o produto, afetando por tabela os europeus.

O combustível exportado por Moscou para os principais países europeus passa por um gasoduto que atravessa a Ucrânia. Com a decisão de Kiev de suspender a passagem do gás, quem mais temeu foi o bloco europeu.

Bruxelas depende da Rússia para 25% de seu consumo de gás. Segundo a Administração de Informação Energética dos Estados Unidos, a dependência européia irá se acentuar até 2020 e a UE terá de importar até 75% de seu consumo de gás natural.

Não por acaso, a crise diplomática entre Rússia, Ucrânia e a Europa foi considerada uma das mais sérias dos últimos meses na região e obrigou a UE a rever toda a sua estratégia energética.