Título: Blair pode sofrer moção de censura
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2006, Internacional, p. A18

Pedido deve ser apresentado ao Parlamento por colegas do líder britânico, revoltados com a derrota eleitoral

Sob intensa pressão de colegas do próprio partido para fixar já a data de sua renúncia, o primeiro-ministro trabalhista, Tony Blair, comemorou ontem 53 anos. Na véspera, ele havia sofrido a maior derrota eleitoral desde que assumiu o poder em 1997 e realizado profunda remodelação no ministério, apontada como "brutal" pela mídia.

Deputados trabalhistas, inconformados com a derrota do partido e a reforma do gabinete, redigiram uma carta pedindo moção de censura contra o governo, no Parlamento. Esse documento já teria obtido, segundo a BBC, a assinatura de pelo menos 50 parlamentares trabalhistas, integrantes, principalmente, da ala esquerda da agremiação. Um ex-ministro, Andrew Smith, chegou a pedir em público que Blair anuncie "quanto antes, melhor" um calendário para uma ordenada transição de poder em Downing Street (sede do governo).

Essas iniciativas não pegaram o primeiro-ministro de surpresa, mas encheram de nuvens carregadas a festa de aniversário. A surpreendente tentativa de restabelecer a autoridade depois do fracasso do partido nas eleições distritais da Inglaterra mediante uma ampla reestruturação do ministério foi classificada de "brutal" e "banho de sangue" pela imprensa britânica. Blair rebaixou quatro ministros-chave, entre eles Jack Straw e John Prescott. E afastou do Ministério do Interior Charles Clarke, acusado de negligência por ter permitido a libertação de mais de mil delinqüentes estrangeiros - alguns cumprindo pena por homicídio e estupro - sem abrir processos de expulsão contra eles. Straw deixou a chefia da diplomacia britânica para ocupar o cargo, menor, de líder da bancada trabalhista na Câmara. Prescott, da ala esquerda trabalhista e envolvido num escândalo extraconjugal, foi mantido como vice-primeiro-ministro, mas perdeu o comando de um superministério, que cuida do planejamento do governo e da política habitacional do país.

Segundo a maior parte dos analistas de política britânicos, Blair armou um complô contra seu virtual sucessor, Gordon Brown - mantido no cargo de ministro das Finanças. O primeiro-ministro afastou praticamente todos os partidários de Brown das principais pastas. Eles foram substituídos pelo que a mídia definiu como "fiéis escudeiros" de Blair, caso de Margaret Beckett, nova ministra das Relações Exteriores, Alan Johnson, novo ministro da Educação, e John Reid, novo ministro do Interior. Para os analistas, essas personalidades poderiam dificultar o trânsito de Brown em Downing Street.

Blair também deixou bem atados seus laços no interior do Partido Trabalhista ao designar para chefiar a agremiação sua "protegida" Hazel Blears. Diante desse quadro, o primeiro-ministro convocou Brown para uma reunião que deveria ocorrer ainda ontem.