Título: Alckmin: 'Vai ter ira santa na eleição'
Autor: Ana Paula Scinocca e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Nacional, p. A7

Depois de o conselho político de sua campanha se reunir pela primeira vez para aparar arestas, o pré-candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, disse ontem à noite a um grupo de 220 empresários, em São Paulo, que a população está frustrada com o governo Lula e reagirá. "Vai ter uma ira santa na eleição. As pessoas estão decepcionadas, há indignação", afirmou ele, em um discurso de cerca de meia hora. Cada empresário desembolsou R$ 3 mil para participar do evento, no Restaurante Gallery Oggi, nos Jardins.

Alckmin voltou a chamar o governo do presidente Lula de "frouxo" eticamente, uma administração de "amigos, companheiros e cupinchas". "O País está paralisado. O governo acabou antes da hora", destacou. Para ele, se o Brasil tivesse um sistema parlamentarista, Lula já teria deixado o governo. "Mas infelizmente temos um modelo engessado."

Em seguida, o presidenciável ressaltou que um segundo mandato de Lula pode ser ainda pior. "Se não fez reforma em quatro anos, por que vai fazer num segundo mandato, que já começa terminando?", indagou. Nesse cenário, disse, o País continuará "em último na fila". "Um segundo governo pode ser ainda pior, com base menor de governabilidade."

Apesar das duras críticas ao adversário, Alckmin usou a maior parte de sua fala para explicar a onda de violência que atingiu São Paulo. Para ele, os atentados promovidos pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) foram uma reação à política dura do governo paulista com os criminosos.

"Às vezes não há rebelião porque há paz acordada: você faz de conta que eu não te vejo e você faz de conta que não me vê. Em São Paulo, não", afirmou ele, recordando a decisão do governo paulista de isolar 745 líderes criminosos. "Se não enfrentarmos o crime, vai virar Farc", anotou, referindo-se ao grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Alckmin usou do bom humor quando disse ter certeza de que chegará ao segundo turno, mas terá de suar a camisa. "Outro dia eu estava em Campo Grande, na Micarandi. Imagine eu, que não tenho nada a ver com carnaval. Candidato sofre."

CONSELHO

Ontem à tarde, em Brasília, o conselho político da campanha de Alckmin discutiu ontem os rumos da candidatura por quase três horas. PSDB e PFL resolveram investir na ampliação das alianças partidárias, dar prioridade aos palanques estaduais e concentrar a campanha em 80 municípios considerados pólos importantes na formação de opinião. Alckmin saiu dizendo que um segundo mandato de Lula seria um "pesadelo".

O conselho também decidiu reagir ao suposto uso da máquina pública em favor da reeleição de Lula. "Não podemos continuar nessa mesmice, um governo autoritário na sua maneira de agir, sem espírito republicano. A utilização da máquina pública jamais vista, fora de qualquer critério de razoabilidade, uma publicidade à custa do dinheiro público", atacou o pré-candidato tucano.

Na reunião de ontem, os aliados do PSDB e do PFL resolveram também estabelecer uma ação política clara em Minas Gerais e em São Paulo, os dois Estados mais populosos, onde os tucanos têm candidatos competitivos a governador. Segundo Alckmin, seu programa de governo começou a ser discutido.

Na avaliação do ex-governador, a reunião do conselho serviu para pacificar a aliança. "Agora estamos unidos", disse. "Estou absolutamente zen."

Foi realizado um balanço da campanha em maio e uma avaliação positiva dos resultados das pesquisas. Pela primeira vez, Alckmin sentou-se à mesa com as cúpulas do PSDB e do PFL - que passaram as duas últimas semanas trocando farpas publicamente - com o objetivo de efetivamente dar um rumo à campanha e buscar sintonia.