Título: Levantamento revela que ausentes garantiram pizza
Autor: Rogerio Schlegel , Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2006, Nacional, p. A15

A ausência de deputados tem sido grande aliada da pizza assada pelos mensaleiros. As faltas dificultam a cassação, que exige voto de pelo menos 257 deputados, como se pode constatar por uma simulação na ponta do lápis. Nas duas últimas votações, de Josias Gomes (PT-BA) e José Mentor (PT-SP), teria havido cassação se todos os 513 deputados comparecessem, mantida a proporção de votos dos que efetivamente apareceram. O mesmo teria se passado com Wanderval Santos (PL-SP), outro dos 10 absolvidos até agora.

Faltar é uma maneira de ajudar um amigo mensaleiro em apuros. Nos corredores da Câmara, comenta-se que os deputados acusados costumam pedir aos colegas que votem pela absolvição. Quando há resistência, resta pedir para que o colega pelo menos não compareça à votação decisiva.

Levantamento feito pelo Estado mostra que alguns deputados parecem especialmente suscetíveis a esse tipo de pedido. Alguns campeões de faltas se ausentaram em três, quatro e até cinco votações em que houve absolvição. O deputado Roberto Balestra (PP-GO), por exemplo, não apareceu nos dois últimos julgamentos de acusados de participar do mensalão. Em outras três votações, o deputado esteve presente à sessão, mas na hora do voto se ausentou ou não registrou presença - o que, para efeito de absolvição, dá no mesmo.

A assessoria de Balestra informou que ele era secretário de Agricultura de Goiás e estava licenciado da Câmara. Ocorre que suas cinco ausências foram registradas depois que reassumiu o mandato, em fevereiro, segundo informa o site da Câmara, onde foi feito o levantamento. A pesquisa já leva em conta que algumas ausências são consideradas justificadas pela Casa - como as relativas a viagens oficiais e licenças médicas - e só computa as faltas sem justificativa oficial.

Outro faltoso contumaz é Cleonâncio Fonseca (PP-SE), que não foi a quatro votações que acabaram em absolvição. No dia do julgamento de Sandro Mabel (PL-GO), Fonseca compareceu à sessão, mas na hora da votação se ausentou, segundo o registro oficial da Câmara. Sandro Matos (PTB-RJ) adotou o mesmo procedimento nas quatro absolvições que deixou de assistir - esteve presente à sessão do dia, mas não votou no julgamento do colega.

A lista dos deputados com três faltas reúne mais de 20 parlamentares e não distingue entre governistas ou oposicionistas. PSDB e PFL têm vários nomes entre os deputados que, com suas faltas na hora do julgamento, facilitaram a vida de mensaleiros.