Título: Programas sociais mudaram base de Lula
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2006, Nacional, p. A11

Presidente usou Bolsa Família para restaurar antigos apoios, diz estudo

O programa Bolsa Família permitiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva recompor sua base de apoio, afetada por perdas gradativas em alguns segmentos populacionais, que se agravaram com o escândalo do mensalão. Na eleição de 1989 o perfil eleitoral de Lula dependia fortemente do Sudeste, do contingente de analfabetos/1º grau de ensino e dos que ganhavam até 5 salários mínimos. Ao longo do tempo ele foi trocando esses segmentos por grupos mais elitizados. Mas de dois anos para cá voltou a apelar ao povão para compensar as perdas.

Essas importantes movimentações na base de apoio de Lula são mostrados em estudo do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), da Unicamp, baseado em pesquisas do Ibope. Em 1989, 67% da preferência por Lula estava calcada no grupo analfabetos/1º grau; em 2002 esse número havia minguado para 53%; em março deste ano subiu a 59%. Em 1989, 49% da opção por Lula saía do Sudeste; em 2002 esse índice caiu para 42%; em março deste ano, reduziu-se mais, a 38%. Em compensação, a preferência por Lula no Nordeste, que era de 31% em 1989, caiu para 27% em 2002 e agora bateu nos 59%. Números semelhantes se revelam no grupo que ganha até 5 salários mínimos.

Para especialistas, ao perder segmentos importantes no meio e no topo da pirâmide, Lula jogou-se de novo nos braços do povão, a base social que primeiro captou sua mensagem, em 1989. O Nordeste passou a compensar as perdas no Sudeste; os analfabetos/1º grau e os que ganham até 5 salários atenderam à convocação feita, sensibilizados por três apelos: o Bolsa Família, o anúncio antecipado do aumento salário mínimo e a melhora na oferta de empregos.

EXPANSÃO RÁPIDA

O mais provável é que o PT, ao detectar a perda de apoio nas Regiões Sudeste e Sul e nos extratos médio e superior, tenha decidido, em fins de 2003, centralizar os programas sociais no Bolsa Família para expandi-lo mais rapidamente e ampliar o arco da base social de Lula, que se estreitava. O Bolsa Família chegará a outubro com 11,2 milhões de famílias beneficiadas, nas quais há 22,4 milhões de eleitores.

O passo seguinte foi Lula começar a exacerbar as propostas populistas, autonomear-se "pai dos pobres" e emitir sucessivas mensagens de cunho populista. Márcia Cavallari, diretora do Ibope, diz se impressionar com a blindagem de Lula nos segmentos dos mais pobres: 34% da atual preferência eleitoral por Lula, conta ela, vem de eleitores que avaliam o governo como "regular". E não é só.

Na última pesquisa Ibope no Estado de São Paulo, a corrupção foi indicada por 56% como "maior problema do governo federal" (20% a indicaram no governo estadual e 11% na Prefeitura). Márcia estudou a amostra dos 670 eleitores paulistas que integravam aqueles 56% e descobriu que, nesse segmento, 33% afirmaram que vão votar em Lula.