Título: Amorim manda professores voltar
Autor: Angela Perez
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Internacional, p. A12

Os 23 professores brasileiros que até ontem ainda estavam em Timor Leste retornarão ao Brasil. A previsão é que até o final do dia hoje todos já estejam em Darwin, na Austrália.

A decisão, divulgada em nota da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes), foi tomada pelos ministros da Educação, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Celso Amorim. Os professores - do Programa de Qualificação e Formação de Docentes em Língua Portuguesa - receberam ordens de voltar por causa do aumento da insegurança em Timor Leste.

A professora Ana Lúcia Souto, em conversa com o Estado, revelou que, entre os professores, não havia consenso sobre o que fazer. "Não sabemos se ficamos em Díli ou vamos para Darwin, na Austrália", disse. Ana Lúcia, de 39 anos, disse que a sua vontade era ficar na Austrália e esperar as coisas se acalmarem, para então retornar a Timor e ficar até o fim do projeto, em novembro. Com a decisão oficial, porém, todos devem retornar.

Ana Lúcia diz que há perigos no país, "dependendo do lugar". Segundo ela, a violência vem crescendo, mas não há ataques contra estrangeiros. Um indício da deterioração, relata, é que os ataques também estão ocorrendo nos refúgios. "Ontem, entraram em um abrigo e bateram em um padre."

Segundo Benjamin de Araújo Corte-Real, reitor da Universidade Nacional de Timor Leste, a situação é delicada. "Quando todos estão com medo, é difícil até levar a ajuda." Nas longas filas para receber arroz, também há mostras da violência pela qual passa o país. "Pessoas chegam com uma faca e pegam uma saca", relata o reitor.

A professora do curso de Letras do Mackenzie Regina Helena Pires de Brito, que coordenou o projeto Universidades em Timor Leste e mantém contato com pessoas do país, ressalta a diversidade de fatores que levam ao atual conflito. Ao comparar o atual confronto com o de 1999, com a Indonésia, resume a situação por que passam os habitantes do país: "Antes, o inimigo era externo, agora, é timorense."