Título: 'Governar para todos'
Autor: Marta Suplicy
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2006, Nacional, p. A7

Um dado da pesquisa Ibope da semana passada merece atenção. Trata-se da queda simultânea dos candidatos tucanos a presidente e governador no Estado de São Paulo. Despencou a vantagem que tinha Geraldo Alckmin no Estado em relação ao presidente Lula. Já a queda de José Serra é menor, porém, significativamente, passou ao segundo lugar na capital. Depois de ter abandonado seu mandato e quebrado o compromisso de cumprir os quatro anos de governo, a população da cidade de São Paulo começa a se dar conta das conseqüências do abandono e já nos coloca à frente na capital. E estes são resultados após os comerciais de Alckmin e Serra na TV.

As eleições em São Paulo implicam uma escolha para o futuro. Nosso Estado tem uma economia diversificada e vocação permanente para o crescimento econômico e a produção de riqueza. Quem viaja pelo interior, pelo litoral, pela Grande São Paulo, sente esse vigor. Mas vê também grandes desigualdades: bolsões de pobreza nas cidades, regiões e municípios enfrentando isolamento e estagnação econômica.

É difícil encontrar quem não concorde que aí está o grande desafio: gerar mais crescimento econômico, mais riqueza, e ao mesmo tempo superar as enormes desigualdades sociais e regionais. Para ultrapassar esses obstáculos é preciso governar para todos, com um olhar especial para as regiões e as pessoas que têm menos.

O governo Lula mostrou ter esse olhar: a economia cresceu, com mais emprego e renda, inflação baixa e melhora efetiva da condição de vida dos mais pobres. O programa Bolsa Família, o aumento do salário mínimo, a ampliação do acesso ao ensino superior - com o ProUni e a criação de mais universidades federais -, a expansão do crédito agrícola e tantas outras ações têm impacto no dia-a-dia da população.

Meu governo na cidade de São Paulo também significou avanços importantes para a população: o Bilhete Único, os CEUs, o Renda Mínima, o transporte escolar gratuito, a construção de 189 escolas e creches, a revitalização do centro, a iluminação da periferia, o programa Saúde da Família, o acompanhamento pré-natal.

Está na hora de cessar o faz-de-conta e olhar para os mais pobres na ação do governo estadual. Faz-de-conta na política de segurança, incapaz de atacar as fontes da delinqüência e com policiais mal pagos e desmotivados. Faz-de-conta na Febem, onde as rebeliões são o triste retrato da incompetência tucana. Faz-de-conta na área da saúde, onde a dengue se espalha como epidemia. Faz-de-conta na educação, onde o Estado fecha escolas e pouco faz para efetivamente implantar a escola integral. Faz-de-conta nas finanças, equacionadas graças ao calote nos precatórios e a privatizações generalizadas, deixando, mesmo assim, um Estado endividado.

Quero ser governadora para fazer do governo um instrumento indutor do desenvolvimento, com atenção às vocações econômicas regionais, descentralização administrativa e alocação de recursos orçamentários na ponta, em contraposição à gestão tucana, centralizadora. Consórcios e câmaras regionais, onde Estado, prefeituras, produtores, empresários e trabalhadores é que definem os investimentos capazes de impulsionar a economia local, e não as conveniências políticas de um governo distante.

Quero colocar a educação como prioridade, recuperando a qualidade de ensino, a dignidade do professor, investindo na escola técnica de nível médio e superior, nas universidades e no modelo de educação inclusiva representado pelos CEUs.

O Estado também precisa assumir seu papel de coordenador do sistema de saúde nas regiões, responsável pelo atendimento mais complexo, articulado à atenção básica a cargo dos municípios.

SEGURANÇA

A Febem acabará. O caminho está dado faz tempo, pelo exemplo do NAI (Núcleo de Atendimento Integrado) de São Carlos, e pelo Rio Grande do Sul.

Quero que a insegurança não seja mais uma presença constante na vida da população. Além das ações na área da educação e geração de oportunidades para os jovens, o Estado tem de investir na carreira dos policiais, em condições adequadas para o trabalho e nos instrumentos de inteligência policial, essenciais para combater quadrilhas e recuperar a autoridade nos presídios.

Estas ações são carro-chefe. Mas outras exigem atenção, como a habitação, a recuperação das estradas secundárias e vicinais, a extensão do Metrô, o Rodoanel, a implantação do Bilhete Único Metropolitano.

O compromisso demonstrado na prática de governo, a experiência administrativa, a maturidade temperada pela reflexão sobre os erros e acertos, me dão convicção de que estou preparada para exercer o governo do Estado, para ajudar a reeleição do presidente Lula.

E, quem sabe, ajudar o PT a fazer história, com a eleição, pela primeira vez, de uma governadora para o Estado de São Paulo.