Título: Irã propõe diálogo direto 'até com os EUA'
Autor: Stefan Aust, Gerhard Sport e Dieter Bednarz
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Internacional, p. A14

O Irã anunciou ontem estar disposto a retomar negociações com os países da União Européia sobre seu programa nuclear e até iniciar um diálogo com os EUA, seus inimigos, se "mudarem de comportamento". Os dois países não mantêm relações diplomáticas há 26 anos, desde a Revolução Islâmica.

Ao falar sobre o possível diálogo com os americanos, o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, não especificou que mudança de atitude espera dos EUA. Nos últimos dias, diplomatas europeus têm indicado que a melhor maneira de buscar uma saída para a crise seria a negociação direta entre Washington e Teerã.

Ontem o governo iraniano também se mostrou propenso a fazer concessões sobre o número de centrífugas para enriquecimento de urânio que usará em seu programa nuclear. Isso significa que o país concordaria em não dar início a um programa em escala industrial. Ao fazer essas propostas, porém, as autoridades enfatizaram que não vão abandonar seu programa de enriquecimento de urânio, como quer o Conselho de Segurança da ONU.

Temendo que o Irã tenha como objetivo final a produção de armas atômicas, o Conselho de Segurança exige que o país pare de desenvolver pesquisas para enriquecer urânio, etapa do ciclo nuclear que tanto pode conduzir à produção de energia elétrica (como o Irã alega ser seu objetivo), como à fabricação de armas. Para purificar urânio no nível adequado às armas, é necessário um número muito maior de centrífugas do que para o uso em usinas de energia elétrica.

A iniciativa iraniana surgiu dois dias antes de uma importante reunião dos membros permanentes do Conselho de Segurança (Rússia, China, EUA, Grã-Bretanha e França), mais a Alemanha para definir um pacote de incentivos econômicos a ser oferecido ao Irã, em troca de sua desistência de enriquecer urânio.

A idéia, que será discutida amanhã em Viena pelos chanceleres desses países, seria pôr o Irã diante de um dilema: se não aceitar os benefícios, será submetido a sanções.

Mas Rússia e China, detentores de poder de veto no Conselho, já indicaram que não aprovam sanções. Diante disso, o governo americano tem pressionado seus aliados europeus e o Japão para que concordem em aplicar medidas punitivas, de caráter econômico e diplomático, segundo apurou o diário The Washington Post.

"Vamos esperar para ver as propostas que nos fazem, para que as estudemos", disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Hamid Reza Asefi.

O chefe da Política Externa e Segurança da União Européia, o espanhol Javier Solana, antecipou que se na reunião de amanhã em Viena o pacote de incentivos e sanções for aprovado, ele será apresentado ao Irã até meados de junho.