Título: Lembo critica PSDB e minimiza rebeliões
Autor: Bárbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Metrópole, p. C3

Há dois meses no comando do Estado, completados hoje, o governador Cláudio Lembo (PFL) voltou a alfinetar o PSDB, com quem esteve alinhado durante os últimos 12 anos, ontem em sabatina realizada pelo jornal Folha de S. Paulo. Lembo se disse abandonado pelo ex-governador tucano Geraldo Alckmin e tentou amenizar a crise na Segurança, provocada pela série de rebeliões comandadas pelo PCC, ataques a policiais e denúncias de abusos da polícia.

"Eu diria que, como toda ave, o tucano voa mundo afora e às vezes voa fora de hora", disse, em alusão à ave-símbolo do PSDB. Sobre o sumiço de Alckmin durante a crise, Lembo foi direto: "Gostaria de tê-lo a meu lado, mas superei os problemas sem ele."

O governador reconheceu que percebia os problemas entre o seu partido, o PFL, com o tucanato, mas disse que o papel do vice era apenas ocupar um cargo "espectante". "O vice do PFL tem de ser um homem cordato, tranqüilo e solidário." Apesar disso, declarou seu voto a Alckmin para a Presidência e ao ex-prefeito José Serra ao governo do Estado.

A platéia estava lotada e não se conteve quando o governador foi questionado sobre a questão da segurança no Estado. Havia grupos favoráveis a Lembo, que chegaram a discutir com os jornalistas que faziam a sabatina, e outros contrários ao governador.

A maior manifestação ocorreu quando Lembo tentou diminuir o impacto das rebeliões no Estado, iniciadas no dia 12 e confirmadas pela Secretaria de Administração Penitenciária em 73 presídios, com 360 reféns. "A rebelião aconteceu em apenas 12 presídios no Estado, o que é notável. Rebeldia no sistema foi em aproximadamente 50 - queimaram colchão, fizeram barulho -, mas rebelião tivemos em 12", disse.

Apesar de os motins, que duraram até o dia 15, terem deixado 23 presos mortos, Lembo voltou a levantar polêmica: "Não morreu um preso sequer. Nossa Polícia Militar não feriu um preso sequer. Não fugiu um preso sequer. É por isso que tenho orgulho da minha Polícia Militar e da minha Polícia Civil."

A entrevista foi marcada por interrupções da platéia e respostas do governador diretamente ao público. "Você está rindo, mas não tem coragem de ser policial militar. Durante os ataques, os PMs estavam morrendo e você estava trancada em casa", disse a uma mulher que interrompeu a sabatina.

Na defesa dos policiais e agentes penitenciários mortos nos ataques, o governador se disse angustiado com a forma pela qual os questionamentos são feitos. "Eu gosto de questionamento, mas sinto muito pela morte daqueles policiais, agentes penitenciários, guardas de presídio. O ser humano também tem de compreender as posições que foram tomadas em função do ataque."

O governador reconheceu a existência de grupos de extermínio. "Não nego isso. Lamentavelmente havia chacina em todos os fins de semana, por causa da droga. Mas é injusto dizer que foram as corporações civis e militares."

Lembo inaugura hoje uma unidade da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) em São José do Rio Preto, pelo processo de descentralização do atendimento, que prevê a construção de 41 unidades no Estado. "Estou convicto de que até o fim do ano vamos desativar a Febem do Tatuapé."