Título: Para Bird, economia mundial terá 'pouso suave'
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

O Banco Mundial avalia que há grandes possibilidades de um "pouso suave" da economia mundial no futuro próximo. Contudo, o relatório Global Development Finance 2006 adverte que uma "aterrissagem brusca" também poderá ocorrer.

A instituição destaca fatores preocupantes, como déficits em conta corrente em países europeus e da Ásia Central, que vão de 5% a 6% do PIB. Em outras nações na América Latina e no sul da Ásia, a inflação crescente pode requerer apertos monetários dos bancos centrais para reduzir a atividade.

O relatório, divulgado ontem pelo Banco Mundial (Bird), anuncia que 2005 foi um marco nas finanças globais, tanto na esfera privada quanto na pública. O fluxo de capitais internacionais privados para países em desenvolvimento alcançou o nível recorde de US$ 491 bilhões, com um aumento bem distribuído.

Os governos e as entidades privadas aproveitaram as condições favoráveis do mercado financeiro para refinanciar dívidas e financiar o futuro, enquanto os mercados locais de títulos na Ásia e América Latina atraíram grande interesse dos investidores internacionais.

Tudo isso, diz o Banco Mundial, parece ter continuado nos primeiros meses de 2006 e até mesmo as perspectivas de curto prazo parecem boas, reconhece. Mas o ambiente internacional, alerta, poderá se provar menos auspicioso no futuro do que tem sido nos anos recentes.

Segundo o relatório, a taxa de câmbio real efetiva do dólar vai cair 5% a cada ano até 2008, levando a uma correção ordenada do déficit em conta corrente dos EUA. A taxa de câmbio real efetiva reflete o valor do dólar diante de moedas de outros países que mantêm relações comerciais com os EUA, ajustado à inflação.

"Quando se têm políticas que elevam a poupança dos EUA, algo tem de acontecer com o fluxo comercial, resultando em mudança no valor relativo dos preços", disse Hans Timmer, diretor do grupo de Desenvolvimento de Perspectivas do Bird, em entrevista à agência Dow Jones.

Timmer afirmou que uma taxa de poupança mais elevada nos EUA trará a média do déficit da conta corrente para 5,5% do PIB em 2008. No ano passado, o déficit em conta corrente norte-americano totalizou 6,4% do PIB, acima dos 5,7% de 2004.

Ele disse ainda que a desvalorização do dólar deve ser gradual, a fim de não prejudicar as economias em desenvolvimento no Oriente Médio e na Turquia, que também registram déficit em conta corrente. "Em um processo suave de ajuste, haverá um enfraquecimento moderado e previsível do dólar."