Título: Abalo na véspera do Copom: Bolsa cai 4,54% e BC segura alta do dólar
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

O mau humor voltou a atingir o mercado financeiro ontem e obrigou o Banco Central (BC) a vender dólar para conter a alta da moeda americana, às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o novo nível da taxa Selic (15,75% ao ano). A operação, chamada de swap cambial, não vinha sendo feita desde agosto de 2004, No leilão, o BC vendeu o lote integral de 8 mil contratos com vencimento em 3/7/2006, correspondentes a US$ 399 milhões.

Mas a atuação do BC, com a oferta de 8 mil contratos de swap cambial, não foi suficiente para anular a onda negativa que se abateu sobre o mercado. O dólar fechou em alta de 1,54%, cotado em R$ 2,31. Na máxima do dia, atingiu R$ 2,37, com alta de 4%. Só neste mês, a moeda teve valorização de 10,69%. Até março, o BC vinha fazendo operações contrárias à que foi feita ontem para conter a queda do dólar.

No mercado de ações, o efeito da volatilidade foi devastador. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve a maior queda desde 10 de maio de 2004. Caiu 4,54%, para 36.412 pontos, distante do recorde de 41.979 pontos alcançado no início de mês. Até o dia 25, o saldo de movimentação dos investidores estrangeiros estava negativo em R$ 1,6 bilhão.

Porém, o movimento de queda das bolsas foi mundial. Em Wall Street, o Dow Jones caiu 1,63% e a Nasdaq, 2,06%. A Bolsa da Argentina recuou 3,53% e a do México, 3,4%. Na Europa, as bolsas tiveram recuo médio de 2,5%.

No mercado de dívida, os títulos brasileiros recuaram forte. O BR-40 caiu 1,29% e o A-Bond, 1,32%. Com isso, o risco país avançou 4,09%, para 280 pontos. Em cenários incertos, os investidores se desfazem de papéis de países emergentes, considerados de risco elevado, para se protegerem com papéis de países desenvolvidos. "O Brasil, como foi o grande queridinho dos investidores por causa dos bons fundamentos econômicos, acaba sofrendo mais nestes momentos, apesar de os números continuarem positivos", afirma o economista da Gap Asset Management, Alexandre Maia.

COPOM Segundo Maia, a turbulência do mercado pode mudar os planos do BC em relação ao futuro dos juros. A maioria dos analistas aposta numa queda de 0,5 ponto porcentual, abaixo do corte de 0,75 ponto do mês passado. Mas há economista cogitando a possibilidade de corte de apenas 0,25 ponto. Outros observam que a volta das operações de swap cambial pode indicar uma preocupação com o nível do dólar e, portanto, impedir o corte do juro na reunião de hoje. Tantas especulações fizeram os juros futuros avançarem na BM&F. Os contratos de DI, com vencimento em janeiro de 2008, fecharam o pregão de ontem com taxa de 16,18%, ante 15,57% de ontem; e o DI de janeiro de 2007, 15,36% ante 15,25%.

A explicação para a volatilidade continua sendo o temor de continuidade do aperto monetário dos Estados Unidos. Novas altas dos juros americanos, para conter a inflação de curto prazo, poderiam causar uma desaceleração da economia americana e, conseqüentemente, mundial, afirma o diretor da corretora Ágora Senior, Álvaro Bandeira. Hoje será divulgada a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

O mercado está preocupado com as sinalizações que o documento trará, afirma o gestor da Máxima Asset Management, Renato Motta. Segundo ele, o movimento de ontem não foi provocado por nenhum fator específico. "De modo geral, não teve nenhum indicador que mostrasse esse nervosismo exagerado.