Título: 'BC fará redução adequada do juro'
Autor: Adriana Fernandes, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem condições de fazer uma "redução adequada" na taxa de juros básica da economia, a Selic, atualmente em 15,75% ao ano. A decisão do Copom será tomada hoje.

"Eu confio no Copom, confio no Banco Central. Ele tem sensibilidade para avaliar a situação, avaliar o andamento da inflação no País e chegar a uma redução adequada da taxa de juros", comentou Mantega, depois de se reunir com empresários na Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A referência de Mantega ao "andamento da inflação' é uma alusão ao fato de que os índices de preços têm tido comportamento tranqüilo nos últimos meses e as expectativas para a inflação futura também são favoráveis, apesar das turbulências que têm agitado o mercado financeiro, no Brasil e no exterior.

De acordo com a pesquisa Focus, divulgada semanalmente pelo BC, o mercado espera que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 4,32% neste ano e em 4,2% nos próximos 12 meses. Nos dois casos, a previsão para o IPCA está abaixo da meta de 4,5% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Haveria espaço, portanto, para o BC continuar a baixar os juros.

Essa interpretação é reforçada pela avaliação de Guido Mantega sobre a situação do Brasil diante das turbulências externas, que, segundo analistas de mercado, poderiam justificar uma atitude mais conservadora do Copom na reunião de hoje. Mantega disse que o Brasil "nunca esteve em situação tão favorável" para enfrentar o mau humor dos mercados internacionais.

"Com essa solidez e as reservas internacionais que nós temos, nós estamos habilitados a enfrentar essa situação. O Brasil, hoje, tem pouco volume de capital especulativo, diferentemente do que acontecia no passado. Temos reservas sólidas, o que nos deixa numa situação favorável. Temos superávit em transações correntes, ou seja, nós não precisamos de capital externo para fechar as nossas contas, diferentemente de outros países", afirmou.

Além de comemorar a situação da economia, Mantega elogiou a atuação do Tesouro Nacional e do BC para conter a turbulência no mercado. "Eles atuaram muito bem na semana passada, tanto que estamos caminhando para uma situação de calma na economia."

O ministro também elogiou especificamente o movimento feito ontem pelo BC, que voltou a realizar operações de swap cambial (instrumento financeiro que equivale a uma venda de dólares no mercado) para conter a forte alta da moeda norte-americana.

Segundo ele, o BC foi "muito bem-sucedido" na sua ação. "É papel do BC procurar interferir nos mercados quando acha que há algum excesso ou alguma necessidade de dar liquidez e de equilibrar o seu funcionamento", disse Mantega.

SEM FESTA

Indagado se, ao defender a atuação do BC ele não estava contrariando as afirmações que fez na semana passada, quando comemorou a alta na cotação do dólar, Mantega negou ter feito declarações nesse sentido. "Eu não estava comemorando. Eu fiz uma brincadeira que não foi entendida. Eu estava comemorando é que a economia brasileira na semana passada reagiu muito bem a essa turbulência. Demonstrou que está preparada para enfrentar turbulências dessa natureza justamente pela sua solidez. A questão do dólar foi apenas uma observação de passagem", explicou.

Mantega disse ainda esperar que o mercado não tenha solavancos maiores com uma eventual elevação de 0,25 ponto porcentual no juro americano. "Isso já está no preço dos movimentos de capitais que aconteceram. Hoje em dia, os mercados globalizados se antecipam a possíveis movimentos, seja de inflação, seja de taxa de juros. Se houver elevação de 0,25 ponto no juro americano, o mercado já fez as acomodações necessárias e não terá nenhuma reação posterior", observou.

Na reunião de ontem com os empresários, Mantega ouviu reclamações sobre "o câmbio e a trajetória das contas fiscais", segundo relatou o presidente da CNI, deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE). O empresário disse que vários setores exportadores estão "extremamente preocupados com o câmbio" e os números da balança comercial brasileira já começam a indicar que as exportações do Brasil "vêm perdendo fôlego".

Na avaliação do presidente da CNI, a recente valorização do dólar é "uma correção perversa, porque está se dando em decorrência de uma conjuntura de turbulência internacional". Em relação à preocupação com a trajetória fiscal, o presidente da CNI comentou que a visão da indústria é que, se o gasto público continuar crescendo como nos últimos dez anos, o País será conduzido a uma situação macroeconômica "delicada".