Título: Petrobrás é acusada de sabotagem
Autor: Marina Guimarães e Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2006, Economia & Negócios, p. B12

A Bolívia está acusando a Petrobrás de sabotagem após a unidade de distribuição do grupo interromper a exportação de diesel para o país. "Interpreto essa atitude tomada como um ato de sabotagem ao país, não posso entender isso de outra forma", declarou na noite de segunda-feira o presidente da estatal Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Jorge Alvarado. Nos postos de combustível de La Paz e de Santa Cruz de la Sierra há longas filas pelo combustível.

A Petrobrás Bolívia de Refinación, distribuidora do grupo, é só uma das empresas que importam diesel para o país, mas recentemente parou de fazê-lo, acrescentou o executivo.

Alvarado afirmou que o atraso do governo boliviano em efetivar os pagamentos para a Petrobrás relativos aos subsídios do diesel pode ter levado o grupo a suspender as importações. Além disso, segundo ele, a companhia já esperou até quatro meses para cobrar o Estado boliviano. A Petrobrás é a única empresa que suspendeu as importações de diesel, observou Alvarado.

A Bolívia já está cogitando sanções contra a estatal brasileira, informou ontem o vice-ministro de Comercialização e Industrialização dos Hidrocarbonetos, William Donaire.

A Petrobrás Bolívia disse que suspendeu a importação de diesel por dois dias, mas nega ter provocado desabastecimento e informou que a situação já está normalizada. Segundo uma fonte da empresa, houve um problema na importação porque o governo boliviano demorou a apresentar alguns documentos solicitados pela empresa brasileira. No Rio, a presidência da Petrobrás disse que não faria nenhum comentário.

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, avaliou ontem que as negociações entre Brasil e Bolívia caminham "extremamente bem", ignorando as acusações de sabotagem. Ele argumentou que sua classificação otimista das negociações deve-se ao fato de que "no início houve uma sensação de que havia desentendimento entre as partes, a Petrobrás dizia uma coisa e a Bolívia outra, mas agora estamos falando a mesma linguagem".

Segundo Rondeau, a Bolívia já admite que para cumprir "o decreto de nacionalização, que atinge os ativos da refinaria, precisa, em algum momento, de uma regulamentação". Ele disse que "pode ser uma portaria, uma lei complementar, todos os mecanismos legais que permitam que a Bolívia e a Petrobrás cumpram de forma legal o que está no decreto".

Mas ele retrucou as declarações do ministro boliviano de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, que disse ser uma "loucura" a tentativa brasileira de atingir a auto-suficiência na produção de gás. "Loucura? Posso dizer que o Brasil tem uma orientação estratégica que o presidente Lula indicou nas primeiras reuniões com a área energética. Ele afirmou que era necessário buscar a independência energética. Não vejo insanidade em uma afirmação dessas."

Segundo Rondeau, os planos de autonomia não foram feitos por causa da Bolívia. "O Brasil precisa dessa independência. É absolutamente lógico."

Ele desmentiu versões da imprensa de que o Brasil estaria negociando com a Bolívia de comum acordo com a Argentina ou que teria pedido ao governo para não anunciar um acordo com a Bolívia antes que o Brasil feche o seu. "Não estamos trabalhando de forma fechada para pressionar o mercado A, B ou C", disse em Buenos Aires, onde se reuniu com o ministro de Planejamento da Argentina, Julio De Vido.

O ministro disse que perguntou a De Vido sobre as negociações entre a Argentina e a Bolívia e vice-versa. Segundo Rondeau, "a orientação que temos dado à Petrobrás é que negocie dentro do contrato e nós estamos apostando de uma forma muito otimista no resultado dessas reuniões técnicas."