Título: Celular funciona em prisão do PCC
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Metrópole, p. C4

Na P2 de Presidente Venceslau, onde estão 765 integrantes da facção, aparelhos da Vivo estão pegando

O esperado corte da telefonia celular não atingiu a Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau, onde estão detidos 765 integrantes do PCC transferidos no dia 11. A própria direção da P2 constatou que o sinal da operadora Vivo continuou funcionando normalmente. Agentes penitenciários e diretores conseguiram receber e fazer ligações de dentro da penitenciária, embora a comunicação tenha sido cortada em toda a cidade e também na Penitenciária 1 (P1).

O bloqueio do sinal das antenas perto de presídios foi determinado pela Justiça e está em vigor desde sexta-feira também nas cidades de Avaré, Araraquara, Iaras, Franco da Rocha e Presidente Venceslau. O objetivo é dificultar a comunicação de presos e integrantes do PCC do lado de fora das prisões.

"Foi um susto. Estava trabalhando quando meu celular tocou e daí caiu a ficha: os presos podiam falar pelo telefone", contou um agente. "O sinal da Vivo foi até mais forte do que costumava ser", afirmou o coordenador dos presídios do Oeste Paulista, José Reinaldo Santos. Santos disse que, na manhã de domingo, quando percebeu que o sinal não tinha sido cortado, avisou imediatamente o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. Segundo ele, o sinal da TIM e da Claro, outras duas operadoras que funcionam na área, foi cortado. "Mas o da Vivo continuou funcionando." Santos e diretores da P2 disseram que a Vivo informou que se tratavam "de janelas abertas" na comunicação com torres de cidades próximas, não afetadas pelo corte.

A Secretaria de Administração Penitenciária garantiu que até as 17 horas de ontem apenas o sinal da P1 havia mesmo sido bloqueado. Às 18h30, um diretor da P2 informou que a Vivo havia, aparentemente, conseguido cortar o sinal na unidade.

Em São Vicente, os celulares da Claro e da Tim voltaram a funcionar ontem nos arredores do Centro de Detenção Provisória (CDP) e das Penitenciárias 1 e 2, em São Vicente, no km 66 da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega. Os celulares da Nextel e Vivo continuavam mudos. Moradores de bairros num raio de 2 a 3 quilômetros dos presídios reclamam que estão sem sinal. A agente de saúde Severina Gomes da Silva, que mora no Parque Continental, a 2 km das prisões, não se conforma com a situação. "Eles garantiram que a população vizinha não seria prejudicada."

Em Avaré, o bloqueio do sinal atingiu uma área bem maior que o entorno dos dois presídios da cidade. Taxistas e empresas prestadoras de serviços são os mais afetados. "Recebo os chamados pelo celular e calculo que já perdi umas 30 saídas", disse o taxista Alfredo Gianotti.

A venda de celulares nas lojas despencou. "Foi o fim de semana mais fraco do ano", disse Ivan Jares, gerente de uma loja especializada. Apesar dos prejuízos, a Associação Comercial e Industrial decidiu esperar até o fim da semana para pedir na Justiça o restabelecimento do serviço. Segundo o presidente da entidade, Ibrahim Ismael, as operadoras informaram que, em até cinco dias, o bloqueio estará limitado às áreas dos presídios.

Os 3.850 moradores de Iaras, que até a manhã de domingo conseguiam usar celulares da Vivo, tinham ontem todos os aparelhos completamente mudos. A operadora fez ajustes na antena depois de descobrir que os sinais continuavam entrando na penitenciária local. Segundo o prefeito Paulo Sérgio de Moraes (PTB), a maioria da população está aceitando o bloqueio. "As pessoas entendem que é melhor ficar sem o celular, mas ter paz."

Em Belo Horizonte, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, admitiu ontem que a utilização de bloqueadores de celulares perto de presídios não é a melhor solução para evitar a comunicação entre bandidos. "O começo de tudo seria não permitir a entrada de telefones celulares nos presídios." Ele disse que o governo e as operadoras pesquisam uma solução que não prejudique os 90 milhões de usuários de celulares do País, mas não há prazo para resolver a situação.

VISTORIA

Integrantes do Ministério Público do Rio e da Secretaria de Administração Penitenciária vão sobrevoar amanhã o Complexo Penitenciário de Bangu para identificar quantas antenas de celulares estão instaladas na vizinhança dos presídios. Oficialmente as operadoras informam que são sete. A vistoria é parte de um estudo para bloquear o sinal dos celulares para as penitenciárias sem prejuízo à população.

O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, informou que o projeto não inclui o desligamento das antenas, como ocorreu em São Paulo. "Estou incumbido de passar todos os dados dessa negociação para o Nagashi (Furukawa)." Entre as possibilidades em estudo está a instalação de antenas com raio de ação de 180 graus - e não de 360 graus, como as atuais.