Título: 'É apenas acomodação', diz Mantega
Autor: Renata Veríssimo , Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para ministro, eventual saída de dólares será marginal, porque existe pouco capital especulativo no Brasil.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a turbulência externa é momentânea e não deve afetar o Brasil significativamente. Ele atribuiu o movimento atípico no mercado financeiro mundial ao comportamento da inflação americana, mais alta que o esperado, o que gerou especulações sobre uma nova alta do juro básico nos EUA. "São momentos de acomodação dos ativos financeiros", disse, acrescentando que o Brasil está equipado para enfrentar esse momento "sem maiores problemas, sem nenhum pesadelo".

Ele disse que uma eventual saída de dólares será marginal, porque existe pouco capital especulativo no Brasil. "O Brasil é um dos países menos afetados pela volatilidade e isso é muito importante porque demonstra a solidez do País e a capacidade que temos de enfrentar esse tipo de volatilidade".

Em almoço na Bovespa, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou que a economia brasileira não está mais sujeita a grandes impactos das crises periódicas. "A economia brasileira, após forte ajuste no balanço de pagamentos, reduziu drasticamente a vulnerabilidade externa", afirmou, lembrando que a previsibilidade econômica no País também é bastante maior.

Para Meirelles, o mercado de capitais brasileiro vem crescendo muito e as bolsas vêm se valorizando, "independentemente de flutuações como a que vimos hoje." "O mercado sobe e desce, não tem uma trajetória linear", afirmou. Segundo ele, não existe mercado acionário que se valorize e cresça de forma sustentada baseado em incerteza ou má gestão econômica. "Por isso, a valorização da Bolsa é resultado direto da boa gestão econômica."

O diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, também garantiu que o País está mais protegido das instabilidades externas. Segundo ele, a ação do governo federal nos últimos três anos para fortalecer os fundamentos econômicos do País deve impedir um impacto negativo decorrente da forte volatilidade observada no mundo.Para ele, o mundo passa por um período de ajuste e ainda não está claro se há uma reversão de tendência da economia global.

Para o diretor do BC, as reservas do País acima de US$ 60 bilhões e a redução expressiva da dívida pública em dólar demonstram o fortalecimento do País para enfrentar momentos como este. "De qualquer forma, o País está muito mais forte para resistir a choques adversos", disse. Para ele, "países com bons fundamentos tendem a suportar melhor situações como essa".

O secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, afirmou, em São Paulo, que a volatilidade mundial não indica que esteja em curso uma reversão do quadro de crescimento da economia global. Para ele, o momento parece ser de ajuste do apetite por risco dos investidores. "Estamos vivendo uma situação global de mudança do apetite por risco, mas muito longe de outros momentos que a gente viveu, quando o problema estava no Brasil", afirmou.