Título: Procurador pede 15 inquéritos contra parlamentares do caso sanguessugas
Autor: Mariângela Gallucci e Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Nacional, p. A4

O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de 15 inquéritos para apurar suspeitas de envolvimento de congressistas em compras fraudulentas de ambulâncias reveladas pela Operação Sanguessuga, realizada pela Polícia Federal. Souza disse que as investigações deverão tramitar em segredo de Justiça. Segundo assessores, o procurador identificou a existência de indícios de participação de 15 parlamentares no esquema, que envolve crimes como corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

A assessoria do procurador informou ainda que ele poderá pedir a abertura de novos inquéritos contra outros congressistas se surgirem indícios de envolvimento com as irregularidades. A estratégia de Souza de propor 15 inquéritos em vez de apenas um foi tomada porque teoricamente não há relação entre os atos investigados.

A Operação Sanguessuga foi desencadeada no início de maio por investigações feitas pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso. Segundo informações da procuradoria e da PF, havia uma organização com base em Cuiabá que desde 2001 participava de manobras para fraudar compras de ambulâncias. Os parlamentares entravam no esquema, segundo as investigações, aprovando emendas para a aquisição dos veículos.

Para municiar os pedidos, Souza usou principalmente a documentação apreendida na sede da Planam, empresa que capitaneava a fraude. Esses documentos revelaram indícios consistentes de pagamento de propina a parlamentares e ex-parlamentares, num total de pelo menos R$ 1,5 milhão.

Nos computadores da Planam, principal fornecedora das ambulâncias superfaturadas, a PF apreendeu arquivos com controles de pagamentos da organização, incluindo o livro livro-caixa. Nele constam supostos repasses aos seguintes deputados: Lino Rossi (PP-MT), Pedro Henry (PP-MT), Benedito Dias (PP-AP), Iris Simões (PTB-PR), Nilton Capixaba (PTB-RO), Paulo Baltazar (PSB-RJ), Teté Bezerra (PMDB-MT), Paulo Feijó (PSDB-RJ), Cabo Júlio (PMDB-MG), Pastor Amarildo (PSC-TO), Fernando Gonçalves (PTB-RJ), Wanderval Santos (PL-SP) - registrado como Bispo Wanderval, nome que utilizava na legislatura passada - e o terceiro secretário da Mesa da Câmara, João Caldas (PL-AL), entre outros. No caso de Nilton Capixaba, há mais de 20 repasses registrados, que somam cerca de R$ 440 mil.

Diálogos comprometedores de Capixaba também foram captados nas escutas telefônicas da PF, realizadas durante a operação. Idêntico é o caso de João Caldas, que em uma das conversas gravadas se dirige ao empresário Darci Vedoin, dono da Planam e considerado o chefe da organização, tratando-o por "meu amigo". Vedoin replica chamando Caldas de "meu patrão". Já no caso de Cabo Júlio, há uma gravação em que Alessandra Vedoin, filha de Darci, diz a seu interlocutor que pretende suspender o cheque destinado ao deputado por falta de pagamento de uma ambulância entregue.

DEPÓSITO

Além do livro-caixa eletrônico, há outros documentos contundentes nas mãos do Ministério Público. No caso, por exemplo, do deputado Reginaldo Germano (PP-BA), existe o registro de um diálogo entre os empresários do esquema no qual um repassa para outro o número da conta do parlamentar para que um depósito seja feito. Germano e Cabo Júlio estão identificados em outro arquivo eletrônico apreendido, que traz nomes e números de contas correntes dos principais clientes e fornecedores da Planam.

Além dos inquéritos no STF, a Operação Sanguessuga provocou a abertura de outras investigações, inclusive sobre os prefeitos das cidades que compraram as ambulâncias. Também a Câmara chegou a abrir investigação contra 16 parlamentares, cujos nomes nem sempre coincidem com os registrados no livro-caixa da Planam, mas acabou desistindo da apuração interna.