Título: Depoimento confuso liga petistas a criminoso
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Nacional, p. A4

Em depoimento confuso e marcado por imprecisões de datas, a cozinheira Zildete Leite dos Reis disse ontem à CPI dos Bingos que presenciou visitas dos ex-ministros Antonio Palocci e José Dirceu e do presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, ao ex-policial João Arcanjo Ribeiro, conhecido como Comendador Arcanjo, preso desde 2002 por liderar o crime organizado em Mato Grosso. Zildete afirmou que viu cada um dos petistas sair da casa de Arcanjo, em Cuiabá, com malas de dinheiro. A cozinheira contou ainda ter ouvido o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, contar a Arcanjo que mandaria matar o prefeito de Santo André, Celso Daniel, do PT, assassinado em janeiro de 2002.

Zildete percebeu a descrença dos senadores. "Estão duvidando da minha pessoa. Falo o que vi", disse ela, que voltará ao programa de proteção à testemunha, pelo qual já passou no ano passado. Os governistas se irritaram com o depoimento. "Nem vale a pena desqualificar o depoimento", reclamou o petista Tião Viana (AC).

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentará terça-feira requerimento para que seja realizada acareação de Zildete com Palocci, Dirceu e Okamotto. Dias pedirá, mais uma vez, a quebra de sigilo de Okamotto. Zildete não reconheceu a foto de Sombra apresentada pelo relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Alegou ter se confundido porque "na época ele usava cavanhaque".

Quanto às datas, primeiro afirmou ter sido em 2000 e 2001. Depois, disse que Palocci "era ministro desse negócio de Agricultura". Quando Palocci se tornou ministro (da Fazenda), em janeiro de 2003, Arcanjo já estava preso.

O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, disse que o ex-ministro esteve apenas uma vez em Cuiabá, por duas horas, acompanhando ato público com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato. "Estamos entrando no campo do teatro dos absurdos. Só espero que a CPI tenha o bom senso de não embarcar nessas histórias", disse Batochio. Advogado de Dirceu, José Luís Oliveira Lima classificou o depoimento como "inconsistente, mentiroso e leviano" e estuda fazer queixa-crime contra Zildete. Okamotto, por meio da assessoria do Sebrae, negou "veementemente" qualquer contato com Arcanjo. O relator decidiu fazer menção ao depoimento de Zildete no relatório final, mas ressalvou que seriam necessárias novas investigações.

Zildete prestou depoimento, em Mato Grosso, aos promotores de São Paulo que investigam o caso Santo André, nos dias 23 e 24 de maio. A cozinheira disse que trabalhar para Arcanjo fazia parte de um plano de vingança. Zildete aponta Arcanjo como mandante do assassinato de seu irmão, em 1994, que seria pistoleiro do ex-policial. "Queria ter algo que pudesse condená-lo."