Título: Janene falta a novo depoimento e deve ser julgado à revelia
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Nacional, p. A5

O Conselho de Ética da Câmara decidiu julgar à revelia o deputado José Janene (PP-PR). Em nova manobra para atrasar seu julgamento, Janene se negou ontem mais uma vez a depor no processo que pede a cassação de seu mandato. Para dar segurança ao deputado, que sofre de grave doença no coração, três médicos da Câmara foram destacados para acompanhá-lo, mas mesmo assim ele não quis falar, alegando não estar bem.

Como o parlamentar vem adiando sua fala desde o ano passado, o conselho reagiu marcando para a próxima terça a votação do pedido de cassação, que deverá se consumar mesmo que Janene não seja ouvido. A irritação dos conselheiros com o comportamento dele ficou evidente. Nelson Trad (PMDB-MS) mostrou cópia de reportagem que reproduziu fotos em que Janene aparece bem disposto em um churrasco.

"Exijo seriedade e respeito para com este conselho", afirmou Trad. "Dias atrás, esse cardiopata apareceu nos jornais em um piquenique ou sei lá o que, mostrando a brincadeira que vem fazendo com esse órgão." O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), contou ter sido procurado por interlocutores de Janene, que tentaram convencê-lo a marcar outra data para o depoimento. "Queriam adiar o depoimento para 13 de junho, o dia da estréia do Brasil na Copa."

O parlamentar passou por avaliação médica ontem na Câmara. Ele queria que médicos e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), se responsabilizassem caso sua saúde piorasse no depoimento. "Não temos condições de assumir a responsabilidade de que nada iria acontecer com ele. Mas não houve proibição para que ele fosse depor", disse o diretor do Departamento Médico da Câmara, Luiz Henrique Hargreaves. Um dos advogados de Janene, Marcelo Leal de Lima Oliveira, enviou ofício seis minutos antes do início do depoimento informando que o deputado não iria, "diante da ausência de garantia quanto aos riscos".

Janene é acusado de ter recebido R$ 4,1 milhões de Marcos Valério, operador do mensalão. O parlamentar argumenta que o PP recebeu R$ 700 mil para pagar o advogado do ex-deputado Ronivon Santiago (AC). Este é o último dos 19 processos contra deputados acusados de envolvimento com o mensalão. Até agora, só foram cassados José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE).