Título: Despesa com pessoal vai aumentar R$ 7 bi por ano
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Nacional, p. A6

Os reajustes de salário negociados e anunciados pelo governo para beneficiar os servidores do Executivo devem aumentar a despesa com pessoal da União em R$ 7,6 bilhões anuais. Se as reivindicações dos demais Poderes também forem atendidas, como pedem os chefes do Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União (TCU), a conta sobe para R$ 11,2 bilhões - mais do que todo o investimento feito no ano passado pelo governo.

No Orçamento da União para 2006, o governo já reservou R$ 5 bilhões para os reajustes, e esse gasto já foi programado pela equipe econômica ao divulgar há duas semanas o bloqueio de R$ 14,2 bilhões nas despesas de investimento e custeio. Ou seja, o reajuste não deve afetar a meta de superávit primário (economia para pagamento de juros), mas vai inibir o esperado salto nos investimentos.

Em média, o governo Lula tem investido 25% a menos do que o de Fernando Henrique Cardoso, segundo estudo da assessoria técnica do PSDB. Desde que iniciou seu mandato, Lula tem esbarrado (às vezes voluntariamente) em obstáculos que inibem os investimentos: em 2003 foi a crise econômica, em 2004 o crescimento das despesas com o Bolsa Família, em 2005 o déficit da Previdência e, em 2006, o fantasma parece ser os gastos com pessoal.

Além das carreiras de servidores já contempladas pela medida provisória de terça-feira, o governo é pressionado por pelo menos mais quatro categorias que estão em greve. Uma delas, formada por 50 mil servidores administrativos de vários ministérios e chamada de PCC (Plano de Classificação de Cargos), deflagrou paralisações no Incra, no Ibama, na Funai e nos Ministérios da Agricultura e de Desenvolvimento e Comércio.

A greve mais longa em andamento é a dos auditores da Receita Federal, que começou há um mês e tem a adesão de 70% dos 7.644 funcionários do País. Hoje, eles devem parar as atividades de alfândega no Porto de Santos. Os 30 mil servidores do INSS, por sua vez, encerram hoje o terceiro dia de paralisação. A maior parte das categorias cobra do governo o cumprimento dos acordos feitos em 2005.

Neste ano eleitoral, o governo tenta se mostrar simpático com os servidores, mas nos três primeiros anos de gestão do PT o salário dos funcionários públicos do Executivo federal foi achatado, o que faz o reajuste de agora parecer maior.