Título: Bombardeio mata 97 no Afeganistão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Internacional, p. A10

Entre os mortos no ataque aéreo lançado pelos EUA em Kandahar estão 17 civis e 80 rebeldes taleban

Aviões das forças de coalizão lideradas pelos EUA bombardearam entre a noite de domingo e a madrugada de ontem um vilarejo na Província de Kandahar, sul do Afeganistão, matando pelo menos 80 pessoas suspeitas de serem militantes taleban e 17 civis. Este foi um dos mais sangrentos ataques lançados desde que os EUA lideraram a invasão do Afeganistão e depuseram o regime radical islâmico do Taleban, em 2001.

A coalizão que bombardeou a aldeia de Azizi, distrito de Panjwayi, confirmou que 20 rebeldes taleban tinham morrido e disse que havia "informações não confirmadas de 60 baixas adicionais" entre os militantes. O governador de Kandahar, Asadullah Khalid, por sua vez, confirmou que 17 civis morreram no ataque aéreo.

As forças de coalizão responsabilizaram os taleban pelas mortes, acusando os rebeldes de deliberadamente se esconderem entre os civis. "Tínhamos informações sobre a presença de rebeldes nesta aldeia e, quando os aviões americanos começaram a bombardear, os taleban se refugiaram nas casas, o que explica o número de vítimas civis", informou a força de coalizão em um comunicado.

Uma testemunha disse que rebeldes taleban tinham invadido sua casa para disparar mísseis de seu telhado e acrescentou que alguns membros de sua família morreram no bombardeio. "Helicópteros bombardearam a madrassa (escola religiosa) e alguns taleban que estavam lá invadiram as casas das imediações", disse outro homem, Haji Ikhlaf.

O presidente afegão, Hamid Karzai, pediu no mês passado às forças da coalizão que tomassem cuidado durante ataques às áreas residenciais após 13 civis e 1 policial morrerem em incidentes de "fogo amigo". O pior caso do gênero ocorreu em julho de 2002, quando 48 civis morreram e 117 ficaram feridos em um ataque aéreo durante uma festa de casamento na Província de Uruzgan, na região central do país.

Ontem pela manhã, caminhões transportaram os feridos, entre eles várias mulheres e crianças, para um hospital perto da cidade de Kandahar, onde a sobrevivente Zurmina Bibi, que estava segurando seu bebê de 8 meses, dizia ter visto "gente morta por todos os lados". Ela contou que dez pessoas foram mortas em sua casa, incluindo crianças.

Os bombardeios das forças de coalizão ocorreram após os rebeldes taleban intensificarem seus ataques no sul do país. Segundo as forças de coalizão e funcionários afegãos, somando-se as baixas de ontem, mais de 300 pessoas - entre rebeldes, soldados da coalizão e afegãos e civis - morreram desde quarta-feira, quando a pior onda de violência desde 2001 foi desatada no sul do Afeganistão.

A cada primavera, os rebeldes intensificam seus ataques após o derretimento da neve nas montanhas, que eles usam como esconderijo. A onda de violência deste ano, no entanto, tem uma virulência maior do que o comum.

Os ataques rebeldes coincidiram com a chegada das forças de pacificação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ao sul do Afeganistão. A aliança assumirá o comando das forças estrangeiras na volátil região em julho.

O general Karl W. Eikenberry, comandante das forças americanas, disse que há mais militantes taleban e traficantes de drogas esta primavera nas províncias do sul do Afeganistão que no ano passado. Outros líderes militares dizem que os rebeldes intensificaram seus ataques para tentar mostrar às forças da Otan que eles ainda têm poder.

Ainda ontem, o Exército afegão capturou um líder taleban - mulá Mohibullah - em Uruzgan. Vários líderes taleban foram presos nos últimos dias. Mas um porta-voz das forças americanas desmentiu que o mulá Dadullah - um dos mais importantes líderes rebeldes - foi capturado na semana passada no sul do país.