Título: Blair faz visita-surpresa a Bagdá
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Internacional, p. A10

Líder acerta entrega gradual de controle ao governo

Em uma visita-surpresa ontem a Bagdá para manifestar apoio ao novo governo, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, entrou em acordo com o primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, sobre um plano para a transferência de controle de algumas cidades e províncias às forças de segurança iraquianas. A meta anunciada é de começar a mudança já no próximo mês. "Por volta do fim do ano, a responsabilidade pela segurança territorial da maior parte do Iraque terá sido transferida para controle iraquiano", disse Blair.

Essa declaração, numa entrevista à imprensa, foi complementada por Maliki: nas províncias de Bagdá e Anbar, onde as ações dos insurgentes são maiores, as forças estrangeiras poderão ficar mais tempo.

Maliki disse esperar que seu governo, empossado no sábado pelo Parlamento, já comece a assumir em junho o controle de províncias mais tranqüilas. Nenhum dos dois quis, porém, fazer uma previsão sobre a data da saída das tropas estrangeiras.

Um integrante da delegação de Blair, no entanto, descrito pela imprensa britânica como "um funcionário de alto escalão", previu que as forças da coalizão liderada pelos Estados Unidos só completarão sua retirada do Iraque no término oficial do mandato de Blair, que expira no fim de 2009. O porta-voz do líder britânico não confirmou essa informação, argumentando que a "retirada dependerá da prontidão das tropas iraquianas e da situação no terreno".

A devolução gradual do controle das províncias para os iraquianos, na realidade, não significará que um número significante de soldados das forças de ocupação lideradas pelos EUA sairá do Iraque. Eles permanecerão em bases militares, como parte de uma etapa intermediária, e poderão ser chamados a intervir a qualquer momento. Além disso, um grupo de forças não-combatentes poderia ficar mais tempo ainda, para proporcionar treinamento ao Exército e polícia iraquianos. No fim desta semana, Blair irá a Washington para uma reunião com o presidente americano, George W. Bush. Na pauta, a estratégia das forças de ocupação no Iraque. A Grã-Bretanha foi a principal aliada dos EUA na invasão, mantendo ainda no país mais de 8 mil soldados, predominantemente nas províncias árabes xiitas do sul do país, que são as mais tranqüilas, já que a insurgência se concentra nas regiões de maioria árabe sunita.

A posse do governo de coalizão iraquiano, formado pelos principais partidos xiitas, sunitas e curdos, ainda não se traduziu em redução da violência no país. Ontem pelo menos 20 pessoas, na maioria policiais ou soldados iraquianos, morreram em ataques com bombas no Iraque.