Título: MST deflagra ações em 4 Estados e pára rodovias
Autor: Biaggio Talento, Carmen Pompeu
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Nacional, p. A8

Duas sedes de Incra e uma fazenda foram invadidas

Mil e duzentos trabalhadores sem-terra ocuparam, ontem de manhã, a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Fortaleza. Sem prazo para deixar o prédio, eles exigem o cumprimento do plano nacional de reforma agrária, a desapropriação de terras ocupadas por 27 acampamentos no Estado, a renegociação das dívidas e a liberação de obras de infra-estrutura para os assentamentos. O ato faz parte da Jornada Nacional de Luta, desencadeada em todo o País pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), que deve prosseguir até o fim da semana. Ontem foram deflagradas ações em pelo menos outros três Estados.

A direção do movimento entregou, à tarde, a pauta de reivindicações para a superintendência regional do Incra. Já está marcada também para esta semana, no Recife, uma reunião para discutir a situação do MST no Nordeste.

Segundo Gene Santos, da coordenação do MST, estava previsto o assentamento de 2 mil famílias no Ceará, no ano passado, mas apenas 160 foram contempladas. Os sem-terra também querem a renegociação da dívida dos assentados. "Nosso índice de inadimplência é de apenas 2%, contra 90% dos fazendeiros", argumentou o líder sem-terra.

Outra reivindicação é quanto à mudança no índice de produtividade para a desapropriação. Segundo Santos, hoje, no Ceará, o módulo fiscal é de 80 hectares. "Esse valor é de 1963 e precisa ser atualizado."

BLOQUEIOS Grupos de homens e mulheres coordenados pelo MST também desencadearam ontem uma série de protestos em Mato Grosso do Sul. Por volta de 7 horas, interromperam o tráfego de veículos na BR-163, na cidade de Coxim, a 140 quilômetros de Campo Grande. O bloqueio durou meia hora e serviu, segundo alguns líderes, para dar uma demonstração de força do movimento.

Logo após desobstruírem a pista, os sem-terra começaram a distribuir no local a pauta nacional de reivindicações do MST. Às 9 horas, um grupo de 50 integrantes do MST entregou o mesmo documento na sede do Incra, em Campo Grande. Eles ocuparam o prédio com bandeiras, faixas e cartazes. Entre as reivindicações, citaram o fornecimento de comida e lonas para os acampados , além de assentamento das famílias no Estado.

Cerca de 1,5 mil militantes do MST também bloquearam ontem, por duas horas, a BR-101, no município de Estância, a 73 quilômetros de Aracaju. O bloqueio provocou um enorme engarrafamento na estrada, que liga Sergipe à Bahia, e foi acompanhado pela Polícia Rodoviária Federal.

Antes de fechar a rodovia, os sem-terra fizeram uma manifestação diante da agência do Banco do Nordeste em Estância. Eles protestaram contra a política de reforma agrária do governo Lula e exigiram rapidez no assentamento das famílias. O coordenador nacional do MST em Sergipe, Gileno Damascena Silva, disse que diversas manifestações serão feitas em várias regiões do Estado nos próximos dias.

FAZENDA Em Araçás, a 100 quilômetros de Salvador, cerca de 150 famílias ligadas ao Movimento de Luta pela Terra (MLT), uma dissidência do MST, invadiram a Fazenda São Mateus, pertencente à Companhia de Ferro Ligas da Bahia (Ferbasa). Líderes do MLT alegam que a propriedade, de 2.400 hectares, estaria sendo cobiçada para plantio de eucalipto por uma empresa de celulose.

Para consolidar a ocupação, os invasores iniciaram ontem mesmo a demarcação de lotes para serem divididos entre as famílias, que pretendem plantar feijão, milho e abóbora.