Título: Bastos: encontro foi impessoal
Autor: João Domingos, Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Nacional, p. A7

Ministro rejeita insinuações sobre reunião com Dantas

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou ontem que o presidente Lula não lhe pediu para que se encontrasse secretamente na semana passada com o banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity. Bastos assegurou só ter avisado Lula do encontro depois da reunião. Disse ainda que é dono da própria agenda e mantém contatos com quem lhe convém. "Realizo muitos encontros e não posso submeter minha agenda a quem quer que seja. Tenho consciência das minhas responsabilidades e avalio o que tenho de fazer ou não."

Conforme o relato do ministro, o encontro ocorreu a pedido da assessoria de Dantas, que queria entregar pessoalmente uma carta negando ter dado entrevista, publicada na semana passada pela revista Veja, na qual denunciaria a existência de contas em paraísos fiscais em nome de altas autoridades brasileiras. Entre elas estariam Lula e o próprio Bastos. Na carta, divulgada ontem pelo ministério, Dantas nega ter feito a acusação: "Não sou responsável, não forneci informações e nem tive participação na reportagem."

Bastos rejeita insinuações de que o encontro faça parte de um acordão para livrar Dantas de imputações criminais nos inquéritos que o banqueiro responde na Polícia Federal, em troca do silêncio dele em relação às supostas contas. "Não entendo por que tanta celeuma. Foi uma conversa como outra qualquer, com três testemunhas - um senador e dois deputados", afirmou. "O importante é que essas conversas sejam impessoais, transparentes, públicas e que não tratem de coisas que não possam ser tratadas."

O encontro de Bastos com o banqueiro, alvo de inquéritos e duas denúncias judiciais por corrupção, violação de sigilo, espionagem e formação de quadrilha, não agradou à PF, mas ninguém quis se manifestar na instituição. O delegado Disney Rosseti, encarregado do inquérito que investiga as supostas contas, manteve a agenda de depoimentos e ouvirá, em junho, Diogo Mainardi e Márcio Aith, responsáveis pela reportagem de Veja.