Título: Sem liminar do Supremo, Delúbio depõe à CPI hoje
Autor: João Domingos, Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Nacional, p. A7

Comissão quer saber se ex-tesoureiro do PT pediu dinheiro para não criar embaraços a Daniel Dantas

Sem a proteção de habeas-corpus, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares será ouvido hoje pela CPI dos Bingos. O relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), quer saber se ele pediu entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões ao banqueiro Daniel Dantas para que o governo do PT não criasse embaraços para o Banco Opportunity, que controlava a Brasil Telecom.

Garibaldi tem mais questões para Delúbio. Vai perguntar se era ele quem recebia o dinheiro que supostamente seria levado à sede do PT por Ralf Barquete, ex-assessor da prefeitura de Ribeirão Preto na gestão do ex-ministro Antonio Palocci; se o dinheiro que iria da prefeitura de Santo André para o caixa 2 do PT era entregue a ele; quem recebeu a suposta doação de R$ 1 milhão de empresários angolanos do bingo; e que assunto ele conversava com Vladimir Poleto, também ex-assessor da prefeitura de Ribeirão. Numa gravação em poder da CPI, Poleto diz ao advogado Rogério Buratti que terá um encontro com Delúbio.

Este será o quarto depoimento de Delúbio a uma CPI. Ele falou uma vez na dos Correios e outra na do Mensalão. Nesta última também participou de acareação com o empresário Marcos Valério e o presidente licenciado do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto. Em todos ele assumiu sozinho a responsabilidade pelo caixa 2 do PT.

Delúbio pediu habeas-corpus ao Supremo Tribunal Federal (STF) para o depoimento, pois temia ser preso caso a CPI avaliasse que não estava colaborando. Mas o ministro Marco Aurélio Mello negou ontem o pedido de liminar. Argumentou que a convocação partiu de uma CPI e não se pode supor que ela vá realizar atos arbitrários. "Presume-se o que normalmente acontece e não o extravagante. Os cidadãos devem colaborar com as autoridades constituídas para a elucidação de fatos", disse ele na sentença.

Marco Aurélio fez saber ainda à CPI que o STF já decidiu que o interrogado tem o direito de não se incriminar, podendo, quando quiser, não responder a perguntas, ficando em silêncio. E que os advogados podem se manifestar durante uma sessão.

Outra questão que a CPI deve perguntar a Delúbio diz respeito à afirmativa do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o Silvinho, de que Valério pretendia arrecadar R$ 1 bilhão no governo do PT. O requerimento de convocação de Delúbio foi aprovado no ano passado, quando a revista Veja divulgou reportagem sobre a suposta utilização de dólares originários de Cuba para a campanha do presidente Lula em 2002.

Na reunião de hoje a CPI pode decidir a quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal de Delúbio. E pode estender a medida para Silvinho.