Título: Lembo insinua que tucanos não são leais
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Nacional, p. A6

Governador volta a alfinetar o PSDB, do qual se queixa desde início da crise

Um dia depois de ter se reunido em separado com os candidatos do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e ao governo paulista, José Serra, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), voltou a dar estocadas nos tucanos ontem. Desde o início da crise de segurança que atinge o Estado, Lembo vem se queixando do "abandono" do PSDB, sobretudo de Alckmin, de quem era vice até ele sair do cargo para disputar a eleição.

Lembo recebeu a "solidariedade" da cúpula de seu partido no Palácio dos Bandeirantes ontem. Nove caciques do PFL participaram do encontro, inclusive seu presidente, senador Jorge Bornhausen (SC), e o senador Marco Maciel (PE), vice-presidente da República no governo FHC.

Depois de recebê-los, o governador afirmou que a visita dos companheiros de partido era sinal de lealdade. "Meu partido está comigo. É solidário e tem aquilo que deve haver sempre em política, que é lealdade", afirmou. Ao responder se nos últimos dias havia sido vítima de deslealdade, Lembo alfinetou os tucanos, considerados os "intelectuais" no meio político: "No mundo sempre se sofre deslealdade. Quanto mais evoluído intelectualmente, mais a lealdade demora a chegar."

Questionado a quem era dirigido o comentário, disse que poderia citar muitos nomes, mas não gosta de listas. Diante da insistência dos repórteres, que inclusive ressaltaram que o ex-prefeito José Serra é tido com um intelectual, Lembo, bem-humorado, frisou que Serra "era pragmático". Apesar do desabafo, o governador negou que tenha rusgas com o PSDB. Disse que as relações continuam "ótimas, solidárias e firmes" e que os ponteiros com o tucanato estavam acertados. "Nunca houve ausência de diálogo. Houve talvez ausência de mais diálogo", minimizou Lembo.

AUSÊNCIA Depois da reunião no Bandeirantes, todos os pefelistas, com exceção de Lembo, foram ao encontro de Alckmin no seu escritório. A ausência do governador foi percebida. Os pefelistas, porém, foram rápidos em explicá-la: "É que agora é hora de governar. Ele (Lembo) está em horário de expediente", disse o senador José Jorge (PE), escolhido para vice de Alckmin na semana passada. O curioso é que o prefeito de São Paulo, o pefelista Gilberto Kassab, que também em tese deveria estar dando expediente na Prefeitura, não deixou de comparecer à reunião com Alckmin.

Depois da estocada de Lembo nos tucanos, foi a vez de Alckmin, mais comedido, também mandar recado a seu sucessor. O presidenciável tucano negou que haja um "abalo" na aliança entre PSDB e PFL, mas contradisse o governador, negando ter telefonado para o pefelista apenas duas vezes durante a onda de violência que assolou o Estado nos últimos dias. "Falo com o Lembo sempre, diariamente. O que não faço é interferir em sua administração", alegou Alckmin, refutando a existência de uma crise entre as duas siglas na campanha.