Título: Real valorizado sustenta popularidade do presidente
Autor: Ariosto Teixeira
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2006, Nacional, p. A5

Estudo da oposição indica ganho de 60% no poder de compra de quem recebe até 5 mínimos

O debate sobre o que fazer com o câmbio ganhou expressão no governo porque nele está a chave da questão agrícola. Mas o dilema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poderia ser maior. A valorização cambial é a base da sua popularidade. A crise do agronegócio produz desconforto. Mas Lula aposta suas fichas na agricultura familiar, irrigando-a com crédito subsidiado que prevê dispêndios de R$ 10 bilhões a partir de julho, quando começa oficialmente a campanha eleitoral.

O real forte perante o dólar simplesmente espatifou a bandeira do salário mínimo equivalente a US$ 100, empunhada até recentemente pela oposição. É isso que explica por que Lula consegue, nas Regiões Norte e Nordeste - que concentram mais de um terço do eleitorado do País -, índices de intenção de voto superiores a 60%. As pesquisas mostram apoio de 75% do eleitorado do Amazonas, por exemplo. Em Pernambuco, Estado do senador José Jorge (PFL), lançado para vice na chapa presidencial do tucano Geraldo Alckmin, Lula obtém 65% de apoio eleitoral.

IMPACTO O salário mínimo de R$ 350, de fato, já superou o valor de US$ 150. O benefício do programa Bolsa Família, de R$ 107, representa a distribuição direta de quase US$ 50 mensais a mais de 10 milhões de famílias. Este que foi, durante décadas, o valor médio do salário mínimo nacional, agora é o valor de uma política compensatória.

Segundo estudo da própria oposição, preparado para subsidiar o discurso eleitoral de Alckmin, a faixa de renda de até 5 salários mínimos experimenta hoje um aumento real de 60% no seu poder de compra. O impacto equivale ao dobro do efeito causado pelo Plano Real no seu lançamento, em 1994, e que levou Fernando Henrique à vitória no primeiro turno.

O efeito do câmbio no consumo dessa faixa de renda na Região Nordeste, a que tem maior cobertura do Bolsa Família e maior número de pessoas que ganham até 5 salários, seria equivalente hoje a um crescimento econômico de 16% ao ano, 7 pontos porcentuais a mais que o da China no ano passado.

Lula, aparentemente, não deseja que se faça nada que mude esse cenário para pior. O governo abriu o debate da política cambial, mas dificilmente adotará medidas que alterem o quadro atual.O mais provável é que o presidente dirija a discussão para medidas que já foram propostas, e que estão na pauta de votações do Congresso, para reduzir custos dos exportadores. Para efeito de sua política de marketing, o governo supervalorizará essas medidas, apresentando-as não como paliativas, mas como a solução do problema.