Título: Aos 32 anos, e ainda com a sensação do primeiro dia
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Economia & Negócios, p. B6,7

Em Foz do Iguaçu, a vida de muitos moradores se confunde com a história de Itaipu. É o caso de Maud Lucia Passarela, de 44 anos, filha de um barrageiro que ajudou a levantar a maior usina hidrelétrica em operação no mundo. Ela chegou à cidade aos 13 anos de idade, quando o pai deixou Araçatuba, interior de São Paulo, para se juntar aos 45 mil trabalhadores que saíram de vários cantos do País com a missão de barrar as águas revoltas do Rio Paraná.

Em 1981, quando completou 19 anos de idade, Maud decidiu seguir os caminhos do pai. Não na construção da usina, mas na organização da empresa. Passou num teste seletivo e ganhou o cargo de recepcionista da hidrelétrica. Nos escritórios de Itaipu, conheceu o homem que se tornou seu marido, teve filhos e progrediu. De recepcionista passou para a área de recursos humanos, onde acompanha a entrada e saída de todos os funcionários da empresa.

"Quando entrei em Itaipu, pensei que ficaria uns cinco anos. O tempo passou e os cinco anos se transformaram em 25 anos", diz ela, que agora vê, com felicidade, a perspectiva do filho - estudante de tecnologia em manutenção - de trabalhar na usina. O marido e o pai já não trabalham mais na usina. Mas sempre acompanham as notícias de Itaipu por meio da filha.

Na semana passada, durante as comemorações de aniversário de 32 da hidrelétrica, o marido Adelino Passarela, de 48 anos, e a mãe, Eunice Pereira Bruno, de 67 anos, viram a filha fazer um depoimento emocionado sobre seus 25 anos de trabalho em Itaipu. "Eu vi toda a transformação desta usina. Mesmo antes de começar a trabalhar aqui, costumava vir com meu pai ver o canteiro de obra", diz Maud.

Outro que está há 25 anos em Itaipu é Carlos Alberto Knakiewicz, gerente de operação da usina. Mais conhecido por Knaka, ele é lembrado pelos companheiros como o homem que faz chover - uma brincadeira feita pelos funcionários porque é ele quem autoriza a abertura do vertedouro, quando há excesso de água no reservatório. Mas o técnico faz questão de corrigir: "Não sou eu que determino a abertura das comportas, mas sim o ONS (Operador Nacional do Sistema)", explica ele.

Knaka nasceu em São Paulo e fez parte da segunda turma de trainee de Itaipu. "Comecei meu treinamento rodando usinas, como Furnas e Cesp, antes de implementar o sistema da hidrelétrica. Quando cheguei aqui, a barragem não estava completa e a estrutura não estava planejada." Durante todo esse tempo, ele viveu situações complicadas, como um barco que encostou na estrutura da barragem e o apagão de 2000, quando o reservatório caiu 5 metros. "Apesar de todo esse tempo, nosso dia-a-dia nunca é monótono. Sempre tem uma coisa nova. A sensação é a mesmo do primeiro dia de trabalho."