Título: BNDES quer foco na inovação
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

Para Barros de Castros, diretor do banco, política industrial moderna é a peça que falta para o País crescer

No que depender da diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o Brasil vai acrescentar mais um ingrediente na sua busca da retomada do crescimento ¿ uma nova política industrial, centrada no estímulo à inovação. Para o economista Antônio Barros de Castro, diretor de Planejamento do BNDES, e um dos principais formuladores da nova estratégia, esta é uma peça que faltava, e que pode explicar por que o Brasil, mesmo alcançando a estabilidade macroeconômica nos anos 90, manteve um crescimento medíocre, muito longe do desempenho dos Tigres Asiáticos.

Ele explica que a nova estratégia está ligada a outras medidas do governo, como a Lei de Inovação. ¿Creio que o Brasil está constituindo um sistema nacional de inovação, que ainda está pouco articulado, mas aponta na direção correta.¿

No BNDES, a nova política consiste de financiar de forma privilegiada a inovação, buscando, detectando, isolando e incentivando, dentro dos diversos projetos, a parte inovativa. Em termos mais amplos, Castro refere-se à coordenação entre instituições públicas, setor privado, institutos de pesquisa e outros participantes de projetos na área tecnológica e de inovação num sentido maior.

O BNDES também vai fazer apostas no que Castro chama de ¿frentes estratégicas¿, apoiando ¿transformações que estão em curso, para as quais o Brasil se mostra excepcionalmente apto¿. Ele revela que um conjunto de escolhas desse tipo será concluído e divulgado logo. O diretor cita só uma, a do etanol, ¿não meramente o álcool, mas a cadeia que começa com a genética da cana e vai até as biorrefinarias de produção de plásticos, passando pelos avanços decisivos na geração de eletricidade com bagaço, além de processos químicos inovadores¿. Castro acha que um dos entraves atuais ao crescimento são justamente os instrumentos e as instituições que permitiram ao País desenvolver-se rapidamente no passado convivendo com inflação alta, como a indexação e o atrelamento de boa parte da dívida pública aos juros do overnight e ao câmbio.

Esses mecanismos transferiram do setor privado para o governo os custos de se conviver com a intensa instabilidade macroeconômica dos anos 80 e parte dos 90. Isto, por um lado, intensificou as crises, ao ampliar os riscos fiscais, e por outro protegeu o setor privado que, na visão de Castro, chegou em bom estado ao fim da longa fase de turbulências e baixo crescimento iniciada nos anos 80.

Ele considera que o Brasil já está bem encaminhado na superação daqueles entraves, com o espetacular aumento das exportações, a melhora nas contas externas, a eliminação do componente cambial na dívida interna e o início da redução da parte indexada ao overnight. Para ele, se as dificuldades no campo fiscal forem superadas, o País poderá ingressar numa trajetória de crescimento entre 4% e 5% ao ano. Porém, para que o Brasil cresça mais rápido, ele acha necessário ¿enfrentar o problema da China¿. Com o domínio chinês cada vez maior sobre áreas da indústria, ¿o Brasil deixa ser um país de baixo custo e terá de passar radicalmente da fase da imitação para a da inovação¿.

ARTICULAÇÃO

Castro acha que o País precisa buscar especializações, e que as empresas têm uma série de projetos na gaveta que podem deslanchar, desde que haja uma estratégia bem articulada entre os setores público e privado.

Neste ponto, Castro diverge dos economistas liberais que, como o consultor Affonso Celso Pastore, acham fundamental aprofundar a abertura, com negociações que levem a novas redução de tarifas de importação. ¿A falta de acordos comerciais leva à não importação de bens de capital¿, disse Pastore, apontando esse fator como inibidor do investimento.

Para Castro, porém, uma estratégia de desenvolvimento de nichos inovativos, em condições de sobreviver à pressão chinesa, pressupõe a montagem e preservação de cadeias produtivas locais, nas quais os fornecedores têm papel estratégico. Para ele, uma abertura genérica pode trazer ganhos imediatos de barateamento de máquinas e insumos, mas interrompe o desenvolvimento de núcleos inovativos, com a capacidade de adaptar-se aos desafios da competição global. ¿Se partirmos para importar maciçamente o mais barato, vamos desfazer as cadeias locais, e o País tem um sistema industrial que não deveria ser desmontado.¿

No câmbio, Castro defende ¿medidas suaves¿ pelas quais o governo mostre que não aceita qualquer nível de valorização do real.