Título: Novo governo toma posse no Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Nacional, p. A20

Parlamento aprovou ontem primeiro gabinete permanente desde a queda de Saddam, mas ainda há cargos vagos

O Parlamento iraquiano aprovou ontem o governo apresentado pelo novo primeiro-ministro, o xiita Nouri al-Maliki, que será composto por 38 ministros, incluindo 4 mulheres. Com isso, o Iraque passa a ter seu primeiro governo permanente desde a queda de Saddam Hussein, em 2003.

Por causa da dificuldade nas negociações entre xiitas e sunitas, as estratégicas pastas de Interior e Defesa continuarão vagas. Segundo representantes xiitas, o diálogo para preenchê-las continua. Al-Maliki anunciou que enquanto os cargos estiverem vagos, ele se encarregará pessoalmente das funções de ministro do Interior e o sunita Salam Al-Zobai, novo vice-primeiro-ministro, desempenhará as tarefas da Defesa.

O ministério de Relações Exteriores ficará a cargo do curdo Hoshyar Zebari, que já ocupava o posto durante o governo interino. O ex-ministro do Interior, Bayan Jaber, ocupará o Ministério de Finanças.

O ministério de Jaber foi acusado pelos árabes sunitas de promover a criação de esquadrões da morte responsáveis pelo seqüestro, tortura e assassinato de centenas de sunitas, especialmente após a onda de violência que se seguiu ao atentado contra uma mesquita xiita em Samara, 125 quilômetros ao norte de Bagdá, em 22 de fevereiro.

O ataque intensificou a violenta disputa entre grupos sunitas e xiitas no Iraque. Parcela majoritária da população iraquiana, os xiitas sempre estiveram à margem do poder durante o regime de Saddam, dominado pelos sunitas.

Após a votação, Al-Maliki prestou juramento ante os 275 deputados que compareceram à sessão de hoje. Descontente com o gabinete escolhido pelo novo primeiro-ministro, o grupo sunita Frente do Consenso Iraquiano (FCI) se retirou da sala em protesto.

A formalização do novo gabinete não ajudou a reduzir a violência no país. Segundo a polícia iraquiana, a explosão de uma bomba deixou pelo menos 19 mortos e 58 feridos na madrugada de sábado no distrito xiita de Medina Sadr, ao leste de Bagdá, um dos mais movimentados e populares da cidade.

O capitão Ahmad Adbdala, da Polícia do Ministério do Interior, disse que a explosão ocorreu perto de um terminal de ônibus, num local em que grupos de operários da construção civil costumam se reunir, esperando para serem contratados.

Os feridos, vários em estado crítico, foram levados ao hospital de Imã Ali. Medina Sadr é um reduto das milícias Exército Al-Mehdi, lideradas pelo religioso xiita rebelde Moqtada Al-Sadr. O clérigo é um dos mais radicais líderes da oposição às forças de ocupação lideradas pelo Exército americano.

Em outro atentado, pelo menos 5 policiais morreram hoje e outras 12 pessoas foram feridas quando um carro-bomba conduzido por um suicida lançou-se contra um posto de controle na cidade de Qaim, 250 quilômetros a oeste de Bagdá.

Qaim, perto da fronteira com a Síria, é considerada um dos centros da resistência sunita que enfrenta as forças dos EUA e os policiais e soldados iraquianos pró-americanos.