Título: Governo erra ao dar a projeto rótulo social, afirma bispo
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Nacional, p. A14

D. Luiz Flávio Cappio, bispo

A idéia do governo de convidar grandes empresas para capitanear projetos de irrigação na região do São Francisco soa como declaração de guerra para setores da Igreja Católica. É o caso do bispo d. Luiz Flávio Cappio, da Diocese de Barra (BA). No ano passado, quando fez greve de fome, o foco do protesto não era a idéia de transposição, mas o fato, diz ele, de favorecer o agronegócio. Na entrevista, ele afirma que o presidente Lula faria melhor se reativasse obras paralisadas.

Qual a principal falha que o sr. vê no projeto do governo federal? Ele não foi feito tendo em vista os pequenos agricultores, as comunidades ribeirinhas. Vai atender aos projetos agroindustriais, no modelo da grande produção, com altas taxas de rentabilidade. O governo tem procurado dar um rótulo social e ecológico ao seu projeto, mas isso é falso.

Que alternativa propõe? Em primeiro lugar, a revitalização do rio. Do ponto de vista econômico, levamos ao presidente alternativas mais simples, baratas e ecologicamente sustentáveis, voltadas para economia popular. Os projetos iniciados com essa filosofia foram paralisados, porque não cabem no figurino do agronegócio.

O sr. conhece algum projeto paralisado? Na minha diocese tem um: o Projeto Baixos de Irecê, no qual já foram gastos milhões de reais. Canais construídos há sete ou oito anos estão sendo destruídos pelo tempo, o que é uma tristeza, pois estamos numa região de muita produtividade de grãos.