Título: Grande e dividido, PMDB não dá medo, é desejado
Autor: Ana Paula Scinocca, Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Nacional, p. A8

Líderes admitem que legenda hoje é uma "federação de interesses" que só consegue negociar nos Estados

Uma semana depois da convenção que decidiria pela candidatura própria, o PMDB exibe uma imagem de partido fragmentado. Aquele que já foi o maior partido brasileiro hoje é uma colcha de retalhos que só sonha com vitórias localizadas, para acomodar a configuração de uma "federação de interesses", como suas próprias lideranças maiores rotulam. Com diretórios em 4.671 municípios, 9 governadores, mais de mil prefeitos e as maiores bancadas no Senado (21) e na Câmara (82, empatado com o PT), o PMDB não é temido, mas desejado.

No nível nacional, ele trafega na contramão dos partidos - não quer ser adversário de ninguém. O PMDB vive em guerras internas não contra os adversários, mas a favor deles. O que seus integrantes mais querem é concretizar alianças nos Estados, de forma a continuar no poder. O partido espera fazer as maiores bancadas no Senado e na Câmara, mas elas não servirão para exercer o poder, mas para compartilhá-lo.

PEDAÇOS Pelo cenário de hoje, o sonho acalentado pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ter um vice do PMDB em sua chapa à reeleição - não acontecerá mais. Quebrado em muitos pedaços, o PMDB não será nem de tucanos nem de petistas.

Na maioria dos Estados deve fazer alianças com o PSDB de Geraldo Alckmin; em pelo menos quatro - Bahia, Goiás, Tocantins e Pará - estará fechado com o PT e com Lula. Mas um grupo de abnegados ainda sonha que, acima da fragmentação, será possível concretizar a candidatura própria com um nome da velha guarda - o senador Pedro Simon (RS).

De todas as negociações em andamento nos Estados, segundo admitem caciques do partido, a mais difícil é exatamente a que envolve São Paulo. Aqui, o PMDB recebeu ofertas "tentadoras" do PT e do PSDB.

Os dois partidos já ofertaram ao PMDB do ex-governador Orestes Quércia e do presidente nacional da sigla, deputado Michel Temer, a vaga de vice nas chapas encabeçadas por José Serra, no lado tucano, e Aloizio Mercadante, no campo petista. A aliança PSDB-PFL loteia, também, a vaga para o Senado, segundo oferta pública do governador Cláudio Lembo.

LEILÃO O avanço sobre o PMDB se concretizou logo após a convenção que decidiria a candidatura própria e acabou não decidindo nada, a não ser o lançamento não-oficial de Simon, que depende de validação judicial. O partido tem nova data para a convenção oficial - 11 de junho - e até lá continuará oferecendo suas prendas no mercado eleitoral. "Temos muito tempo para conversar", sentencia Temer.

O presidente do partido reconhece que na avaliação Estado por Estado o PSDB apresenta mais atrativos que o PT, mas adverte que os acordos não foram sacramentados. Ele ainda manifesta esperança de que o PMDB tenha candidato próprio. O lançamento de Simon, feito na convenção pelo ex-governador Anthony Garotinho, está sendo articulado nos Estados pelo deputado Cézar Schirmer (RS) e pelo ex-deputado Ibsen Pinheiro.

Simon admite que pode ser candidato, mas contrapõe uma precondição que ele mesmo sabe inexistir: se o partido tiver "um mínimo de organização". No fundo, ele também degusta uma esperança remota: "Se der, vai sacudir a eleição", saboreia, imaginando-se uma terceira via capaz de interpor-se na disputa entre Lula e Alckmin.

"A pré-candidatura do Simon ganhou força nos últimos dias. Ainda podemos ter candidato próprio, o que seria interessante para o PMDB", argumenta Temer. As negociações nos Estados, no entanto, avançam velozmente e operam contra as chances de Simon.