Título: Na Bahia, tucano fica na mão de ACM
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Nacional, p. A7

PSDB baiano bem que tentou criar um palanque alternativo ao de Paulo Souto no Estado, mas fracassou

Não é sem razão que o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, caiu nos braços do PFL baiano. Assim como na disputa nacional pelo Palácio do Planalto, também na Bahia a eleição está polarizada. A briga pelo governo estadual resume-se hoje ao confronto entre o PFL do senador Antonio Carlos Magalhães, que trabalha para reeleger o governador Paulo Souto, e a oposição, que apóia o candidato do PT, Jaques Wagner, no embalo da boa performance do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Bahia.

Com apenas dois palanques no Estado - no qual Lula desfruta da preferência de cerca de 60% do eleitorado -, Alckmin não tinha mesmo para onde correr. Tratando-se do maior colégio eleitoral do Nordeste e o quarto do Brasil, o jeito foi agarrar-se à poderosa estrutura de poder do PFL baiano e ao prestígio de ACM e do governador. A última pesquisa do Ibope, divulgada na semana passada, mostra que, hoje, Souto seria reeleito com folga no primeiro turno. Nas várias simulações, as intenções de voto em seu favor variam entre 57% e 66% do eleitorado, enquanto a preferência por Wagner fica entre 10% e 16%.

"O PFL tinha de acabar tomando conta do nosso candidato na Bahia", resignou-se o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), em conversa reservada com um correligionário sobre a passagem de Alckmin por Salvador. Dos 417 municípios baianos, o PSDB tem apenas 18 prefeitos e, destes, nada menos que 16 declararam voto em Souto. "Minha base de apoio tem entre 380 e 390 prefeitos", afirma Souto sem hesitar.

Foi de muito bom grado que Alckmin se deixou levar pelos pefelistas Bahia afora, em sua primeira visita de campanha. "A manifestação do PFL foi muito forte. Me impressionou muito a firmeza e o empenho do PFL baiano em favor da minha candidatura", contou Alckmin na semana passada, já de volta a Brasília. "A Bahia será sem dúvida um dos mais fortes palanques que eu terei em todo Brasil."

Das exatas 41 horas que Alckmin passou em solo baiano há dez dias, apenas duas foram reservadas ao PSDB do deputado Jutahy Júnior, que lidera a bancada federal. E assim mesmo sob pressão cerrada de ACM e Paulo Souto, que queriam exclusividade. O PSDB local bem que tentou criar um palanque alternativo ao de Souto no Estado, mas fracassou.

ASTRO SOLTO Os tucanos queriam montar uma coligação com o PDT, em torno da candidatura do ex-governador João Durval, pai do prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro. Às vésperas da chegada de Alckmin a Salvador, no entanto, Durval desistiu de voltar ao Palácio de Ondina e anunciou que pretende disputar uma vaga de senador. Assim, em vez de um aliado os tucanos ganharam mais um adversário para concorrer com o ex-prefeito de Salvador Antonio Imbassahy, que trocou o PFL pelo PSDB.

"O Jutahy acabou pendurado na brocha, ou melhor, na candidatura a senador de Imbassahy, que hoje é um astro solto no espaço", avalia o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Disposto a manter a aliança com os tucanos para combater ACM e seu grupo, Geddel defendeu a tese de que o melhor caminho para o PSDB seria o lançamento de Imbassahy ao governo. "Teríamos um candidato competitivo, se o PSDB não tivesse se curvado às pressões do PFL. O PSDB baiano poderia ter se credenciado, inclusive nacionalmente, montando um palanque forte para Alckmin", critica o peemedebista.

Mas a direção nacional tucana não podia nem sequer ouvir falar em candidato tucano contra ACM na Bahia. A pressão da cúpula em favor de uma aliança com o PFL baiano foi tamanha que ACM conseguiu rachar o PSDB, agregando setores do partido ao palanque de Paulo Souto, que já contava com o PL e o PP.

"Eu não sou dissidente. Sou maioria e estou alinhado com a direção nacional, representando a maioria dos prefeitos e candidatos tucanos a deputado", apressa-se em esclarecer o deputado João Almeida (PSDB-BA), que rompeu com Jutahy e aderiu à campanha do governador. "Nossa aliança não é com o carlismo; é com Paulo Souto", insiste, inconformado com a recusa do líder Jutahy, que não admite parceria com ACM. Segundo ele, o PFL corteja o PSDB baiano há cinco meses. "Convidaram a gente para uma aliança formal, com dignidade, e abriram inclusive a vaga ao Senado."

Na mesma linha de Jutahy, Geddel apresentou seu nome como alternativa ao Senado contra ACM e seu candidato pefelista, Rodolfo Tourinho, em uma aliança com o PT. "Estamos unidos contra o inimigo comum, assim como fizeram Churchill e Stalin na Segunda Guerra contra Hitler. Por mais espírito público que eu tenha, minha pátria primeira é a Bahia e minhas diferenças com ACM são inconciliáveis", diz Geddel.