Título: Alckmin afaga PFL e tenta superar atritos com Lembo
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Nacional, p. A6

Apesar das críticas do governador, tucano nega que haja crise na aliança e elogia a escolha de José Jorge para seu vice, embora preferisse Agripino

Às voltas com o desafio de diminuir a distância para um adversário que hoje parece ser capaz de vencer a disputa já no primeiro turno, o pré-candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, ainda tem de destinar energia para tentar domar o partido que é seu aliado, o PFL. Os pefelistas indicaram o senador José Jorge (PE) para vice da chapa, em detrimento do preferido do ex-governador, o senador José Agripino (RN). E Alckmin tem sido alvejado por indiretas diárias lançadas por seu sucessor, o governador Cláudio Lembo.

"Não há nenhuma crise entre PSDB e PFL, muito pelo contrário. Nunca estivemos tão juntos", afirmou Alckmin na sexta-feira, em visita ao Pará, acompanhado do senador pefelista Heráclito Fortes (PI). Ele fez questão de elogiar a escolha de José Jorge - "um excelente senador" - e destacar a presença do companheiro de viagem desde a visita ao Amapá, no dia anterior. "Estamos (PSDB e PFL) elaborando o programa de governo, nunca tivemos tanto trabalho juntos e, mais, essa aliança será ampliada para trabalhar pelo Brasil", disse o tucano.

Alckmin não admite haver qualquer rusga com Lembo, com quem diz conversar "freqüentemente". Anteontem, com boa dose de ironia, o governador reiterou certa mágoa com o que considera falta de solidariedade dos tucanos na crise, dizendo que Alckmin não fala mais ao telefone com ele por conta do preço da ligação.

"O doutor Lembo está fazendo um bom trabalho", afirma Alckmin. "Nós conversamos hoje (sexta). Só não intervim mais nas questões de governo para não tirar a autoridade do governador. Afinal, isso não seria correto nem bom, mas ele e os secretários têm meu total apoio, solidariedade e confiança, tanto que São Paulo está resolvendo o problema (da segurança pública)." A que, então, atribui as declarações do governador? "Não vejo problema", repetiu Alckmin. "Tenho excelente relação com o doutor Lembo."

O governador Cláudio Lembo alega que recebeu, durante toda a crise da segurança, somente três telefonemas de Alckmin. Diante das declarações do ex-governador de que os dois se falam freqüentemente, Lembo disse acreditar no ex-governador. "A verdade é relativa."

SUGESTÕES O pré-candidato quebrou o silêncio sobre os boatos a respeito do "plano B", supostamente tema de um encontro entre o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, em Nova York. "Falar sobre essa reunião é até deselegante com as pessoas", disse Alckmin. "Eles foram aos EUA porque há uma homenagem ao Roger Agnelli, presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Se você tem as principais lideranças de um partido, de vários Estados, é muito natural que conversem, que tomem café, comentem."

E sem dispensar sua própria dose de ironia, Alckmin emendou: "Se tiverem alguma sugestão, é muito bem-vinda, mas não acredito nem em sugestão. Até porque estamos conversando semanalmente. Com Tasso, falo todos os dias e ele está muito empenhado."

A parceria com o PFL está bem, repetiu o ex-governador. Para ele, a coligação PSDB-PFL "tem os palanques mais arrumados na maioria dos Estados brasileiros" e a campanha mais adiantada. "Alguma palavra, colocação, isso é próprio do regime democrático, faz parte da vida pública", avalia.