Título: Fome sai dos discursos, pobre vira eixo central
Autor: Tânia Monteiro, Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2006, Nacional, p. A4

Economia e ações na saúde e educação também deram o tom dos pronunciamentos pelo País

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou o ano visitando obras de recuperação de rodovias, a Operação Tapa-Buracos, contestada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em vários Estados, por irregularidades. Depois, Lula passou a lançar pedras fundamentais de universidades, extensões de universidades e escolas técnicas pelos quatro cantos do País.

Nos primeiros discursos do ano, o presidente batia na tecla de que quitou a dívida do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Depois, passou a falar de educação e o discurso do Fome Zero foi ficando para o passado. Agora, ele prefere falar dos programas da saúde bucal, do ProUni, do aumento do salário mínimo, da recuperação da economia, do aumento das exportações, do crescimento do emprego, dos acordos salariais, do remédio fracionado.

Uma das viagens mais marcantes ocorreu em 21 de abril, para anunciar a auto-suficiência do País na produção de petróleo. No Rio, repetiu o gesto do presidente Getúlio Vargas, mostrando a mão suja de petróleo para o povo e deixando marcas em dois macacões.

Um dos mais fortes discursos que fez, em tom de campanha, foi em 19 de abril, ao enfrentar grande protesto, que reconheceu ser de ex-petistas, em Porto Alegre. Primeiro ele brincou, pedindo que a platéia não tirasse a camiseta para ganhar autógrafo. Em seguida, reagiu aos protestos. Disse que ali houve exercício de democracia, apesar do enfrentamento dos manifestantes, a favor e contra ele.

Aproveitou para atacar "gente que não gosta, que odeia" que se faça algo pelos pobres. E comentou que os adversários devem estar "muito nervosos" com o seu desempenho. "Não querem nem que o presidente Lula diga que é candidato. Imagina o absurdo a que nós chegamos: a cada pesquisa que eu apareço na frente, é um terror. Aí aumenta a quantidade de denúncias, as leviandades."

Em 21 de fevereiro, em Petrolina (PE), ao visitar o local onde vão funcionar as futuras instalações da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Lula avisou que vai continuar viajando e visitando cada obra que anunciou. Nesse dia, falou que quatro anos é pouco para um mandato. Frisou ainda que, "desde o dia que o Brasil foi descoberto", nunca houve um governo tão bom para os pobres. Nessa fala, usou 12 vezes a palavra pobre. Estratégia que vem seguindo à risca.