Título: Importação cresce e setor externo perde força
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

O setor externo, que vem tendo uma influência positiva no PIB brasileiro desde 2001, contribuiu negativamente para a economia no primeiro trimestre de 2006. Isso quer dizer que as importações, que cresceram 15,9% em relação ao mesmo período de 2005, tiveram uma expansão maior do que as exportações, que aumentaram 9,3%. Na comparação com o trimestre anterior, em termos dessazonalizados, as importações cresceram 11,6% e as exportações 3,9%.

Em termos trimestrais, comparando-se com o mesmo período do ano anterior, foi a primeira vez que houve uma contribuição negativa para o PIB do setor externo desde o quarto trimestre de 2003. Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil(AEB), "esta tendência deve se acentuar até o fim do ano". Se isso acontecer, será a primeira vez desde 2000 que o setor externo terá uma contribuição negativa para o PIB.

Segundo projeções da AEB, ainda de caráter preliminar, as exportações devem crescer apenas 1,5% em 2006, comparadas com um avanço de 13% das importações. Castro naturalmente aponta o câmbio valorizado como responsável pelas mudanças no setor externo. Recentemente, a General Motors informou que vai demitir quase 10% dos funcionários da fábrica de São José dos Campos, por causa da queda das exportações provocada pelo câmbio valorizado.

De 2001 a 2003, período de crise e baixo crescimento, o desempenho do PIB teria sido ainda pior se não fosse pela contribuição externa, que inicialmente se baseou muito mais na queda das importações do que no aumento das exportações. Em 2004 e 2005, a demanda interna voltou a ser o principal fator de crescimento, com o aumento da massa salarial e do crédito, mas a contribuição do setor externo prosseguiu, em um nível mais fraco, com as exportações crescendo a um ritmo um pouco acima das importações.

No primeiro trimestre de 2006, o consumo das famílias cresceu, mas em um ritmo um pouco inferior ao observado anteriormente, com uma expansão de 0,5%, na comparação dessazonalizada com o trimestre anterior, e de 4%, em relação ao mesmo período de 2005 (o décimo crescimento trimestral seguido nesta base de comparação).

"O consumo privado não foi nada de excepcional, mas pelo menos está num bom nível", disse Alexandre Pavan Póvoa, diretor do Modal Asset Management. Os gastos das famílias foram puxados pelo aumento de 4,9% da massa salarial e de 35,2% no saldo das operações de crédito de pessoas físicas, quando se compara o primeiro trimestre de 2006 com igual período de 2005.

AGRICULTURA A agropecuária teve um recuo de 0,5% no primeiro trimestre de 2006, comparado com o igual período de 2005, e cresceu 1,1% em relação ao trimestre anterior, em termos dessazonalizados. O resultado da agropecuária foi influenciado por lavouras com colheita concentrada no primeiro trimestre, e que devem ter desempenho bastante negativo em 2006, como arroz, algodão e amendoim. A recuperação da pecuária, por outro lado, afetada pela febre aftosa na base de comparação do primeiro trimestre de 2005, ainda não foi expressiva.