Título: Câmbio leva indústria de transformação a crescer só 3%
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

O crescimento da indústria de transformação, o núcleo mais determinante das tendências gerais da economia dentro das contas nacionais, ficou aquém do desempenho muito bom de outros componentes do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2006.

A indústria da transformação cresceu 3% no primeiro trimestre, comparado com igual período de 2005. Foi a menor expansão entre os diversos segmentos que compõem a indústria: extrativa mineral (12,6%), construção civil (7%), e serviços industriais de utilidade pública, basicamente serviços de infra-estrutura (4,3%).

Dentre os setores da indústria de transformação, os melhores desempenhos ficaram com veículos (automóveis, caminhões e ônibus), gasolina, óleo combustível, materiais elétricos, equipamentos eletrônicos e bebidas. A produção de máquinas e equipamentos também foi significativa, na esteira do aumento dos investimentos.

Segundo a gerente de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis,"o desempenho da indústria da transformação foi razoável". Ela observa que alguns setores sofrem particularmente com a concorrência dos importados, impulsionados pelo câmbio valorizado. Ela dá como exemplo a indústria têxtil, "que vem sofrendo há muito tempo com a concorrência da China."

REPERCUSSÃO O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considera a alta de 1,4% do PIB no primeiro trimestre, na margem, um bom resultado, ancorado principalmente, na expansão da indústria (1,7% na mesma base de comparação). Em comunicado, a entidade afirma que, apesar do número positivo, não há sinais de que o desempenho industrial esteja mantendo o mesmo desempenho neste segundo trimestre. Para o Iedi, a manutenção da política de redução de juros continua a ser fundamental para que a trajetória de expansão do PIB se sustente ao longo do ano.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também comemorou o crescimento de 1,4% do PIB no primeiro trimestre deste ano, na comparação com os últimos três meses do ano passado. "São dados auspiciosos, porque, em termos anualizados, o crescimento do trimestre resulta em quase 6%, mas confio que o País cresça 4% este ano", disse por meio de nota à imprensa o presidente da entidade, Armando Monteiro Neto, que destacou o aumento de 1,7% na produção da indústria.

Apesar de celebrar o resultado, Monteiro fez ressalva ao fato de que o País ainda cresce em ritmo mais fraco que outros países emergentes, como a Índia e a China. Segundo ele, o problema por trás disso seria a elevada carga tributária e o aumento nos gastos públicos, entre outros problemas estruturais. "São dois obstáculos que impedem o País de liberar essa imensa energia que tem para crescer", disse. "Enquanto o Brasil tiver uma carga tributária tão elevada, não vamos poder crescer na média dos países asiáticos, de 7% a 8%."

Colaborou Fabio Graner