Título: BC faz o esperado e juro cai 0,5 ponto
Autor: Renée Pereira e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2006, Economia & Negócios, p. B8

Depois de três reduções consecutivas de 0,75 ponto porcentual, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu diminuir o ritmo e cortar em apenas 0,5 ponto a taxa básica da economia. Com a decisão, unânime e sem viés, o juro básico caiu para 15,25% ao ano e atingiu o menor nível desde fevereiro de 2001. Apesar disso, o juro real brasileiro, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, continua o maior do mundo, em 10,5% ao ano, segundo a consultoria GRC Visão.

Ao término da reunião, os dirigentes do Banco Central divulgaram comunicado idêntico ao do encontro de 19 abril. No texto, eles afirmam que "dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciada na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 15,25% ao ano, sem viés, e acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então decidir os próximos passos em sua estratégia de política monetária".

A redução de ontem foi a oitava seguida, desde setembro do ano passado. De lá pra cá, a Selic caiu 4,5 pontos porcentuais, número que não empolga nem um pouco o setor produtivo. Ontem, fontes do setor voltaram a criticar o conservadorismo do BC e reivindicaram cortes maiores para a economia crescer de forma mais consistente.

No mercado financeiro, porém, a redução do ritmo de queda da Selic já era esperada pela grande maioria desde a última reunião, no mês passado. Com o mau humor do mercado financeiro nas últimas semanas, por causa das incertezas quantos ao futuro dos juros americanos, essa aposta ganhou força. Houve até quem acreditasse no fim do ciclo de queda do juro básico.

Na avaliação do economista Jankiel Santos, do Banco Real, o corte de 0,5 ponto foi a decisão mais acertada que o BC poderia ter. Segundo ele, se não houvesse redução nenhuma, como eles explicariam o que andam alardeando para o mundo, que o Brasil tem bons fundamentos econômicos e está menos vulnerável a choques externos?

"A volatilidade do mercado é temporária e ainda não há elementos para pressionar a inflação. Por isso, o BC não poderia mudar sua postura", afirmou. O economista mantém a projeção de juros de 14% ao ano em dezembro. Para isso, espera mais um corte de 0,5 ponto em julho e outras três quedas de 0,25 ponto.

Na opinião da economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, a redução de 0,50 ponto porcentual mostra que, apesar das turbulências, o cenário não é mais para cortes de 0,75 ponto, mas também não é para puxar o freio de mão. Ela acrescentou que a inflação corrente está em baixa e as expectativas dentro da meta.

O economista da Modal Asset Management Alexandre Póvoa, no entanto, acredita que a ata do Copom virá recheada de preocupações com o cenário externo. "Se a situação se complicar até a próxima reunião, eles podem optar pelo fim das reduções", disse.

Para ele, o fato de o Banco Central voltar a vender dólares no mercado em operação de swap cambial, depois de dois anos, é um sinal de que a instituição está preocupada quanto às pressões da moeda americana sobre a economia brasileira.